O porteiro que citou o presidente Jair Bolsonaro nas investigações sobre a morte da vereadora Marielle Franco e do motorista, Anderson Gomes, depôs nesta terça-feira (19/11) à Polícia Federal e recuou da versão que havia dado em dois depoimentos em outubro à Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro.
Agora, o funcionário do condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca, afirmou ter lançado errado o registro de entrada do ex-policial militar Élcio Queiroz na casa 58, de propriedade do presidente, na planilha de controle do condomínio horas antes do assassinato de Marielle, em 14 de março de 2018.
No final de outubro, o Ministério Público do Rio havia afirmado que uma perícia desmentiuo porteiro e apontou que a ida de Élcio para a casa 66, do policial militar reformado Ronnie Lessa, outro acusado do crime e que morava no mesmo condomínio.
Ele frisou que se sentiu “pressionado” e deu a primeira versão para o episódio, na qual a entrada do suspeito de matar a vereadora foi autorizada pelo “seu Jair” pelo interfone do condomínio. Apesar de afirmar que se sentiu “pressionado”, Alberto Mateus disse que ninguém o pressionou a prestar a versão em que menciona o presidente.
A informações sobre o novo depoimento foram reveladas pelo colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, e confirmada pelos jornais Folha de S.Paulo e o Estado de S. Paulo. Registros da Câmara dos Deputados mostram que o então deputado federal Jair Bolsonaro, estava em Brasília no dia do crime.
O porteiro deu seu depoimento no inquérito aberto pela PF para apurar seu próprio testemunho no caso Marielle. A investigação havia sido pedida pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, para apurar “tentativa de envolvimento indevido” do nome de Bolsonaro nas investigações sobre a morte da vereadora.
O depoimento do porteiro, que chegou por volta das 12 horas de terça-feira acompanhado por defensores públicos, durou cerca de três horas. A Polícia Federal confirmou a oitiva do funcionário do condomínio, mas afirmou que seu teor está sob sigilo. O Ministério Público Federal disse que só se manifestará após o caso ser concluído.
O procurador-geral da República, Augusto Aras, determinou, a pedido de Moro, que o funcionário fosse investigado por possível prática dos crimes de obstrução de Justiça, denunciação caluniosa, falso testemunho e violação de um artigo da Lei de Segurança Nacional, promulgada na época da ditadura militar.
A investigação começou após uma reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, noticiar que registros do condomínio Vivendas da Barra, e também o depoimento de um dos porteiros à Polícia Civil, apontaram de que um dos suspeitos do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, o ex-PM Élcio Queiroz, esteve, horas antes do crime na casa do ex-sargento Ronnie Lessa, suspeito de ser o executor da ação, que mora no local.
Segundo a reportagem, em depoimento, o porteiro informou que Élcio Queiroz anunciou no dia 14 de março de 2018 que iria não à casa de Lessa, mas à de número 58 do Vivendas da Barra, que é a residência de Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro. Ainda segundo a reportagem, em seu depoimento, o porteiro afirmou ter interfonado para a casa do então deputado federal e que “seu Jair” havia autorizado a entrada do visitante.
A versão inicial do porteiro foi dita em duas ocasiões no caso e, como prova, foi levado aos investigadores a planilha de controle de entrada no Vivendas da Barra. O registro apontava a ida de Elcio Queiroz à casa 58. Agora, o porteiro afirma que anotou o número errado na planilha.
No dia seguinte à veiculação da reportagem do JN, o Ministério Público Estadual do Rio organizou uma entrevista coletiva na qual as promotoras do caso Marielle disseram que o porteiro havia prestado informações falsas. As promotoras disseram que se basearam em uma perícia dos áudios que gravaram a comunicação do condomínio naquele dia. Segundo as promotoras, o material apontou que a entrada de Élcio foi autorizada por um homem na casa 65, de Lessa, e não na 58, que pertence a Bolsonaro.
No entanto, a perícia foi realizada em menos de duas horas e meia, no mesmo dia da coletiva. Especialistas questionaram a metodologia das promotoras, apontando que não houve tempo hábil para uma análise aprofundada dos áudios. Os computadores do condomínio também não foram analisados para apurar se houve alguma adulteração do material.
Além disso, o Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro (MPE-RJ) não soube explicar por que o porteiro teria mentido e em que circunstâncias ocorreu a anotação na planilha do condomínio que apontava que a ligação foi feita para a casa 58, de Bolsonaro. A Promotoria ainda disse que não sabia se a gravação registrada envolvia o porteiro que prestou depoimento ou outro funcionário.