Possível saída do Brasil da OMS pode dificultar compra de vacinas e remédios, diz especialista

USACE Europe District / Flickr

O presidente Jair Bolsonaro ameaçou romper na última sexta-feira (5) o relacionamento do Brasil com a Organização Mundial de Saúde (OMS).

“Adianto aqui: os EUA saíram da OMS, a gente estuda no futuro. Ou a OMS trabalha sem o viés ideológico ou a gente está fora também. Não precisamos de gente lá de fora dar palpite na saúde aqui dentro”, disse o presidente na saída do Palácio da Alvorada.

Segundo Gonzalo Vecina Neto, médico sanitarista, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), a possível saída do Brasil da OMS vai na “contramão da história”.

“O presidente do Bolsonaro está tentando copiar o seu congênere americano [Donald Trump] dizendo que vai retirar o Brasil da OMS. Tanto um quanto o outro estão redondamente enganados, na contramão da história, nós vivemos em um mundo cada vez mais globalizado, onde essas instituições mundiais, do sistema ONU, são fundamentais para garantir um mínimo de civilidade e de troca de informações entre as nações sobre essas questões tão importantes como as questões relativas a saúde das populações”, afirmou à Sputnik Brasil.

Donald Trump anunciou no final de maio o rompimento de relações entre os Estados Unidos e a OMS.

Vecina Neto explicou também que a possível saída do Brasil da organização pode implicar na saída do país da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), dificultando a compra de vacinas e remédios.

“Retirar o Brasil da OMS significa também retirar o Brasil da OPAS, com consequências muito mais graves ainda. Por exemplo, a compra de remédio e compra de vacinas, que hoje é feita através de um rotativo da Organização Pan Americana de Saúde”, disse.

Outro ponto criticado pelo médico sanitarista é a iniciativa adotada desde o último sábado (6) pelo governo federal de não divulgar o número total de mortes por COVID-19 no Brasil.

De acordo com Vecina Neto, o presidente Jair Bolsonaro deveria ser responsabilizado judicialmente por essa atitude.

“[Não divulgar os números] é um ato que deve merecer atenção do Judiciário, no sentido de que o presidente seja de alguma forma constrangido a voltar atrás ou então mesmo ser punido por essa decisão, eu acho que é um crime isso. Ele está escondendo informações fundamentais para que nós nos direcionemos nessa pandemia”, defendeu.

Gonzalo Vecina Neto acredita que há uma tentativa de “desmontar” o Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), criado em 1975.

“Hoje o Sistema de Informação de Mortalidade do Brasil é um dos melhores do mundo, é um sistema que começa captando mortes nos municípios através dos cartórios e é agregado até chegar no Ministério da Saúde. É um excepcional sistema de informação, o que está sendo feito é a tentativa de desmontar, óbvio que não vão conseguir, porque os estados e municípios estão contra”, disse.

Nesta segunda-feira (8), a OMS disse que espera que o Brasil continue a compartilhar dados detalhados sobre o novo coronavírus diariamente.

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