Luiz Fernando Pezão é acusado de participar de estrutura montada por Sérgio Cabral, também preso, e operar esquema de corrupção próprio. Ele é o quarto governante do estado a ser detido.
O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (MDB) foi preso nesta quinta-feira (29/11) pela Polícia Federal (PF) sob a acusação de receber milhões de reais em propina e participar de um esquema de corrupção montado por seu antecessor, Sérgio Cabral, e de operar seu próprio esquema.
Pezão é o quarto governador do estado a ser detido por corrupção nos últimos anos, o primeiro durante o mandato. Além de Cabral, preso no âmbito da Lava Jato, também foram detidos por investigações da Justiça Eleitoral Anthony Garotinho e Rosinha Garotinho.
A prisão de Pezão foi executada no âmbito da Operação Boca de Lobo, um desdobramento da Lava Jato, a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR).
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, disse que o pedido da prisão do governador em exercício foi feito porque crimes de corrupção e lavagem de dinheiro continuam sendo praticados.
“Um dos crimes é organização criminosa, e as informações da Lava Jato são no sentido que esta organização continua atuando especialmente na lavagem de dinheiro, crime cometido após a corrupção para ocultar onde o dinheiro está”, disse em entrevista em Brasília.
Segundo Dodge, a Operação Boca de Lobo tem como objetivo “garantir a ordem pública”, paralisando a atuação de organizações criminosas. A procuradora-geral disse que foram identificadas 13 infrações criminosas ainda praticadas, que “precisavam ser interrompidas”.
A procuradora-geral disse ainda que, “apesar de ter sido homem de confiança de Sérgio Cabral e assumido papel fundamental naquela organização criminosa, inclusive sucedendo-o na sua liderança, Pezão operou esquema de corrupção próprio, com seus próprios operadores financeiros”.
A operação tem como base a delação premiada do economista Carlos Emanuel Carvalho Miranda, ex-operador de Cabral, que detalhou o esquema que teria garantido uma mesada de 150 mil reais a Pezão entre 2007 e 2014, período em que era vice-governador e secretário estadual de Obras. De acordo com Miranda, Pezão tinha direito a 13º salário e a dois bônus anuais, cada um no valor de 1 milhão de reais.
A PGR enfatizou que já foram comprovadas práticas criminosas nesse período, como a cobrança de um percentual do valor dos contratos firmados pelo Executivo com grandes construtoras, a título de propina.
Segundo a PGR, “há registros documentais, nos autos, do pagamento em espécie a Pezão de mais de 25 milhões de reais no período 2007 e 2015” – cerca de 39 milhões de reais em valores atualizados. “Esse valor é absolutamente incompatível com o patrimônio declarado pelo governador”, segundo a PGR.
A Procuradoria-Geral pediu a prisão preventiva com o argumento de que, em liberdade, “Pezão poderia dificultar ainda mais a recuperação dos valores que foram desviados, além de ocultar o patrimônio que adquiriu com as práticas criminosas“.
Pezão também foi citado em delações do doleiro Álvaro José Novis e do ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) Jonas Lopes de Carvalho Filho.
Carvalho Filho disse ter arrecadado 900 mil reais para pagar despesas pessoais do governador. O dinheiro teria vindo de empresas de alimentação com contrato com o estado e da Federação das Empresas de Transportes do Rio de Janeiro (Fetranspor).
Um funcionário de Novis, por sua vez, afirmou ter pagado propina de 4,8 milhões de reais a Pezão, dividida em cinco pagamentos efetuados entre 2014 e 2015.
Além de Pezão, são alvo da Operação Boca de Lobo assessores e um sobrinho do governador. A PF cumpre outros oito mandados de prisão preventiva e 30 de busca a apreensão.