A professora Maria de Fátima Girelli, que dava aulas de História no colégio Brasílio Vicente de Castro, localizado no bairro Cidade Industrial de Curitiba (CIC), sofreu um infarto e morreu durante uma reunião para discutir a redistribuição de aulas imposta pela Secretaria de Estado da Educação (Seed).
A um ano da aposentadoria, Maria de Fátima Girelli estava farta dos desmandos promovidos pelo governo estadual e dividia com os colegas de trabalho sua angústia e nervosismo.
Injeções de adrenalina, choques e massagens cardíacas. Apesar do esforço dos colegas e dos profissionais de saúde, quando a professora chegou ao hospital Vitória, o quadro era irreversível.
Segundo o médico e pesquisador Guilherme Cavalcanti Albuquerque, que tem estudos na área de saúde do trabalhador, “não dá para afirmar a relação causal sem uma investigação específica do caso, mas é muito provável que a tensão da reunião tenha contribuído”.
Para a professora Maria de Fátima, que tinha histórico de pressão alta, o novo modelo de redistribuição de aulas era apenas uma das medidas arbitrárias do governo Beto Richa (PSDB) que afetava a rotina dos professores do estado.
Funcionária da escola e amiga pessoal da professora há quatro anos, Jacira Jacinto atendeu a reportagem do Brasil de Fato após o velório, nesta quinta (2).
“Foi uma perda irreparável. Uma pessoa dedicada, atenciosa. Ajudava todo mundo, até financeiramente, e não fazia distinção”, relata. Jacira confirma a hipótese de que a reunião alterou o estado de humor da professora de História.
“De manhã, ela estava alegre, tomou café na escola, conversou. Mas a gente sabia que era um momento tenso, por causa dessa reunião. Ela e outros professores sempre se queixavam sobre as coisas que o governo estava fazendo, com essa mudança das aulas, e isso vinha deixando ela muito preocupada, nervosa”.
“Sempre no nosso mês de férias, o governo anuncia medidas que prejudicam a categoria”, critica Luiz Fernando Rodrigues, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato).
“Faz duas semanas que nós estamos denunciando o problema da redistribuição de aulas, que neste ano retira direitos dos professores e pune aqueles que ficaram doentes. E agora tivemos a primeira vítima fatal dessas maldades e crueldades promovidas pelo Estado”.
Desde o início de janeiro, professores protestam contra os cortes de direitos promovidos pelo governo do Paraná. Entre eles, a punição de professores que ficaram doentes em sala de aula, a diminuição da hora-atividade e o aumento das horas em sala de aula, e o impedimento de professores do Processo Seletivo Simplificado (PSS) de assumir aulas na rede estadual.
O governo Beto Richa também suspendeu a data-base do funcionalismo público por tempo indeterminado, o que atrasa o pagamento dos reajustes de salário dos profissionais da educação.
Maria de Fátima Girelli deixa uma filha e uma neta. O corpo foi velado na manhã desta quinta-feira (2) na capela São Leopoldo, na Cidade Industrial de Curitiba, próximo à escola.