Ao navegar na internet, 37% das crianças e adolescentes usuários da rede identificaram alguma forma de discriminação no ambiente virtual.
Segundo a pesquisa TIC Kids Online Brasil, divulgada hoje (8) pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), o percentual equivale a 8,8 milhões de jovens entre 9 e 17 anos.
Ao todo, o estudo aponta que existem 23,7 milhões de internautas na faixa etária, equivalente a 80% dessa parcela da população.
Os atos de intolerância atingiram, diretamente, de acordo com o estudo, 6% das crianças e adolescentes usuárias da internet. A visualização de conteúdos ofensivos foi maior entre aqueles com pais que concluíram ao menos o ensino médio (43%), entre 15 e 17 anos (51%) e pertencentes as classes A e B (46%).
Essas faixas são mais atingidas, segundo a coordenadora da pesquisa, Maria Eugênia Sozio, não só porque são as parcelas com mais acesso à rede, mas também os grupos que têm maior capacidade de identificar esse tipo de ofensa.
“Por um lado, as crianças mais velhas, cujos pais têm escolaridade maior e de classe sociais mais altas, têm um acesso muito mais intenso à rede, portanto, estão mais expostas a esse tipo de conteúdo. E por outro lado, isso diz respeito a percepção a esse tipo de conteúdo”, ressaltou, ao divulgar os dados.
O preconceito por raça ou cor foi a forma de discriminação mais identificada pelos jovens, encontrado por 23% daqueles que usam a internet. Ações agressivas relacionadas à aparência física foram vistas por 13% deles, por gostar de pessoas do mesmo sexo por 10% e por ser pobre por 8%.
São mencionados ainda preconceito religioso (7%), pelo local de residência (4%) e contra mulheres (3%).
Frenquência de acesso
A pesquisa identificou um crescimento significativo da frequência de acessos pelas crianças e adolescentes. percentual dos que se conectam mais de uma vez por dia subiu de 21%, no estudo referente a 2014, para 66% no atual, com dados coletados em 2015.
O aumento do percentual de jovens que navegam na rede mais de uma vez por dia foi ainda mais expressivo na faixa de 15 a 17 anos (de 17% para 77%) e entre os jovens das classes A e B (de 21% para 75%).
Entre os recortes apresentados, a menor variação foi entre as crianças e adolescentes das classes D e E. A alta passou de 25% para 49%.
Para elaboração da pesquisa foram feitas 6,1 mil entrevistas presenciais com crianças, adolescentes, pais e responsáveis, em 350 municípios, entre novembro de 2015 e junho de 2016.
O trabalho foi realizado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), através do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br).
Celular
O crescimento na frequência de acessos está ligado, segundo Maria Eugênia, a expansão do uso de telefone celular pelos jovens observada nos últimos anos.
“Desde 2012 até agora, a frequência de acessos na internet se intensificou por crianças e adolescentes. Muito disso pode ter relação do uso por dispositivos móveis. O dispositivo que permite o acesso a rede de praticamente qualquer lugar, de qualquer forma, a qualquer horário”, destacou a coordenadora do estudo.
O telefone móvel é o principal meio usado pelo público com menos de 18 anos para se conectar, sendo utilizado por 83% deles (82% na pesquisa anterior).
O computador de mesa perdeu relevância, era usado por 56% dos jovens no levantamento anterior e agora faz parte do cotidiano de apenas 38%.
O tablet era usado por 32% e, atualmente, por 21%. O computador portátil variou levemente, de 36% na pesquisa anterior, para 33% na atual.
Nesse sentido, ficou em 31% o percentual de crianças e adolescentes que acessam a rede somente pelo celular. O índice chega a 41% entre os que vivem em áreas rurais e 53% nos residentes na região Norte. No público entre 15 e 17 anos, 39% utilizam a internet apenas através do telefone móvel.
A partir do aparelho portátil, os jovens acessam à rede de diversos locais. Caiu de 90% para 86% o percentual dos que acessam o mundo virtual em casa.
Subiu de 60% para 73% os que usam a internet na residência de outra pessoa. Declararam usar em locais públicos, como centros comerciais, igrejas ou lanchonetes, 35%.
Essa dinâmica traz, no entanto, alguns problemas, na avaliação do gerente do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação, Alexandre Barbosa.
“Certamente, para comunicação, como o Facebook e redes sociais de uma maneira geral, o celular resolve. No entanto, para desenvolver outras habilidades mais complexas, o telefone celular é um limitador. E , infelizmente nós temos um maior acesso unicamente pelo celular justamente nas classes menos favorecidas”, ressaltou.