Estamos acostumados desde cedo a agendar compromissos, sejam eles profissionais, médicos ou a lazer. Mas um novo estudo revela que agendar atividades de lazer diminui a diversão que elas deveriam nos trazer.
O nosso calendário social pode estar retirando a alegria das atividades que deveriam ser divertidas ou relaxantes, conclui um estudo realizado nos EUA, por Selin Malkoc, professora de Marketing da Universidade do Ohio e especialista em gestão de tempo, e por Gabriela Tonietto, professora da Rutgers Business School.
As duas pesquisadores se basearam em uma pesquisa que fizeram em 2016, com cerca de 13 estudos que analisaram o aproveitamento das atividades de lazer.
O artigo científico publicado no jornal Current Opinion in Psychology aponta que, quando uma atividade de lazer é planejada e não espontânea, é menos proveitosa porque, mentalmente, há a tendência para agrupar todas as atividades programadas no mesmo lugar, sejam elas agradáveis ou não.
Assim, essas atividades de lazer se torna “parte da nossa lista de tarefas” e, “como resultado, ficam menos agradáveis”, explica Selin Malkoc no Washington Post, em declarações citadas no site ScienceAlert.
Selin Malkoc liga o excesso de planejamento do nosso tempo livre ao valor que damos às conquistas ao invés de valorizarmos a felicidade que uma atividade agradável pode nos proporcionar.
“O foco na produtividade é tão difundido que as pessoas até se esforçam para tornar o lazer produtivo e se gabarem de estarem ocupadas”, constata a especialista. Mas “quando agendadas, as tarefas de lazer parecem menos fluídas e mais forçadas – e isso é o que rouba a sua utilidade”, argumenta.
Parte do problema é cultural, já que, segundo Selin Malkoc, damos uma importância tão grande à conquista que até o contentamento se torna secundário.
Nossas vidas agitadas, onde temos que equilibrar o trabalho com outras atividades, exigem tempo e energia. Assim, cumprimos nossas agendas, temendo nunca conseguir fazer tudo o que queremos se nos dermos algum tempo livre, acrescenta a especialista.
No final, fazemos mais coisas, mas aproveitamos menos.
Agendamento flexível
Segundo Selin Malkoc, a solução para aproveitar ao máximo os momentos de lazer é agendar as atividades, mas de maneira menos detalhada e mais flexível em relação ao tempo. Ou seja, marcar um encontro durante o almoço ou uma bebida depois do trabalho, mas não atribuir um período de início ou término para as atividades, se possível.
“Por mais trivial que a mudança possa parecer, ela tem um efeito importante na psicologia humana: reintroduz a flexibilidade para as tarefas de lazer”, afirma a pesquisadora.
Um dos estudos citados por Selin Malkoc e Gabriela Tonietto na sua pesquisa apoia a ideia de um agendamento bem-sucedido. Nessa pesquisa, 148 estudantes universitários que estavam em período de provas finais concordaram em fazer uma pausa nos estudos para tomar um café e comer biscoitos.
Metade deles receberam um horário específico para o lanche, enquanto a outra metade teve a oportunidade de escolher quando fazer a pausa durante um intervalo de duas horas. Os alunos que receberam um tempo específico relataram menos prazer do que aqueles que receberam a possibilidade de escolha.
Além do agendamento flexível, Selin Malkoc também aconselha a parar de tentar encaixar tantas coisas nas nossas vidas. Ela sugere que é melhor medir a satisfação com as atividades ao invés de analisar a sua quantidade.
“Seja mais seletivo no que escolher fazer. Tome a liberdade de deixar as coisas acontecerem”, frisa a pesquisadora. “Isso não quer dizer que nunca devemos fazer planos”, mas que “podemos priorizar melhor e deixar de lado nosso medo de perder“, recomenda.
Esqueça o calendário
Em artigo publicado no site da Universidade de Ohio, Selin Malkoc dá mais algumas dicas de como podemos aproveitar melhor nossos momentos de lazer.
Segundo a especialista, é importante não programar nada para depois de uma atividade de lazer, nem que seja outra atividade agradável. É que quando fazemos isso, estamos sempre olhando “para o relógio” e sentimos que temos “menos tempo para aproveitar a primeira atividade”. No fundo, receamos “o final da diversão” e ficamos preocupados com “a próxima coisa” da agenda, nota Selin Malkoc.
Outra dica é focar no momento presente e esquecer o futuro. Mesmo quando não há pressão de tempo, o mero conhecimento das próximas atividades pode diminuir a satisfação com o que se está fazendo agora, diz a pesquisadora.
“Sua mente vaga para o próximo evento” e o que se faz no momento “pode ser visto apenas como uma maneira de chegar à próxima atividade, e não como algo divertido por si só”, destaca ainda.
Como exemplo, a Selin Malkoc cita um estudo em que os participantes gostaram menos de um vídeo cômico quando souberam que assistiriam a outro vídeo divertido em seguida, em comparação com aqueles que não sabiam o que iam fazer depois.
“A chave para desfrutar das suas atividades de lazer é viver o máximo possível no momento”, sugere a pesquisadora, recomendando que você “seja espontâneo e não viva no calendário”.
Ciberia // HypeScience / ZAP