Ramadã volta à tona antes da Copa do Mundo mais muçulmana da história

O mês do Ramadã acaba de começar para os muçulmanos e será mais uma vez motivo de polêmica no esporte, já que os jogadores de países islâmicos, muitos deles convocados para a Copa do Mundo, enfrentam o dilema de fazer ou não o jejum em plena fase de preparação para a disputa do Mundial.

Nono mês do calendário lunar islâmico, o Ramadã começou na quinta-feira (17) na maioria dos países muçulmanos. A previsão é de que o período termine nos dias 14 ou 15 de junho, os dois primeiros dias de bola rolando na Rússia.

O tema ganha importância especial devido à quantidade de seleções que pode ser afetada pela prática religiosa, especialmente durante a fase de preparação. A atual edição da Copa do Mundo terá seis países com mais de 90% da população muçulmana: Marrocos, Tunísia, Senegal, Egito, Arábia Saudita e Irã.

A eles se unem a Nigéria, onde o Islã também é a religião majoritária, e os muçulmanos filhos de imigrantes, espalhados por seleções como França, Bélgica, Alemanha e Suíça.

Quatro dessas seleções estrearão nas duas primeiras rodadas do torneio, que podem coincidir com o fim do Ramadã. A Arábia Saudita, por exemplo, enfrenta a anfitriã Rússia no jogo de abertura do Mundial, no dia 14. O Egito encara o Uruguai no dia seguinte, mesma data do duelo entre Marrocos e Irã.

Durante o Ramadã, os muçulmanos ficam proibidos de comer, beber, fumar e manter relações sexuais do nascer até o pôr do sol. O jejum alimentar é o que mais preocupa treinadores e médicos, especialmente nesta época do ano, quando faz calor na Rússia.

O técnico do Egito, o argentino Héctor Cúper, expressou claramente sua preocupação ao jornal La Nación.

“Tenho um problema antes da Copa: o Ramadã. Meus jogadores fazem jejum do nascer do sol até que ele se ponha. Quando eu treino? Às cinco da manhã? Eu não posso treinar alguém que não faça a ingestão de líquidos ou não tenha calorias no corpo”, afirmou.

Já o técnico do Marrocos, o francês Hervé Renard, disse em recente entrevista à “France 24” que o Ramadã em 2017 foi a “experiência mais catastrófica” que ele viveu no comando da seleção.

“Nós administramos mal o nosso pessoal, na forma como nos organizamos no que diz respeito aos nossos jogadores. Teremos que fazer melhor“, reconheceu o treinador.

A imprensa do Senegal também entrou no debate e afirmou que o técnico Aliou Cissé pedirá aos jogadores que não façam jejum enquanto estiverem com a seleção do país.

Em alguns casos, o debate deixa as quatro linhas e chega às instituições que orientam sobre o cumprimento dos preceitos do Islã nos países muçulmanos, nos quais o Ramadã permeia o cotidiano.

Segundo o jornal egípcio “Al Masri Al Yaum”, a principal autoridade muçulmana do país, o grande mufti Shawki Alam, emitiu um “fawta” (decreto religioso islâmico) que permite que os jogadores do país escolham se farão ou não o jejum durante o Ramadã.

A Arábia Saudita aprovou uma disposição semelhante. No Marrocos há um precedente criado nos Jogos Olímpicos de 2012, quando o Conselho Superior de Ulemás do país permitiu que os atletas marroquinos “adiassem” o período do jejum.

Essas decisões decisões se baseiam na doutrina do Alcorão, segundo a qual os viajantes têm permissão para não jejuar desde que cumpram o período de abstinência quando voltarem para casa.

De qualquer forma, as flexibilizações não são regra e o costume do Ramadã é tão profundo nas sociedades muçulmanas que mesmo entre os “isentos” (doentes, grávidas, etc), há muitos que o cumprem rigorosamente, desconsiderando as ordens de seus médicos.

Portanto, em última análise, é uma decisão privada e pessoal, que colocará muitos jogadores convocados para a Copa do Mundo em uma posição difícil: ser fiel ao seu dever como muçulmano ou a sua responsabilidade como representantes de seus países.

Ciberia // ZAP

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