O jornal francês “Libération” dá nesta sexta-feira a receita do sucesso português contra a pandemia de Covid-19. “Impedir o contato entre contaminados e outros pacientes, disciplina da população e unidade política” são as linhas mestras da estratégia portuguesa. No entanto, em Lisboa foi registrado nos últimos dias uma retomada dos contágios e a vigilância continua grande no país.
Libération enviou um jornalista a Lisboa e publica uma reportagem especial sobre a situação sanitária em Portugal. O jornal aponta uma “exceção na Europa em sua gestão da crise sanitária desde o início da pandemia”.
O enviado especial do jornal francês visitou hospitais da capital e escreve que o clima que reina em torno do Hospital Santa Maria é uma boa indicação da maneira como Portugal enfrenta a pandemia. Na fila de espera para o Pronto-Socorro, as pessoas parecem preocupadas, mas ninguém se precipita.
Todo mundo é testado para a Covid-19 antes de entrar no estabelecimento. O diretor do hospital, Luis Pinheiro, entrevistado por Libération, explica que desde o início a obsessão da instituição foi isolar o circuito Covid, isto é, tentar impedir que doentes afetados pelo novo coronavírus cruzem outros pacientes e evitar que outras patologias sejam penalizadas pela mobilização para lutar contra a pandemia.
O médico afirma, orgulhoso, que “até agora todo mundo foi atendido, sem exceção”.
Alta dos casos
No entanto, o país do sul da Europa também está em alerta. Como em outras regiões do continente, a conjuntura preocupa, os casos de contágio aumentam em um ritmo importante e o receio ganha as declarações oficiais. Em Portugal, as interrogações sobre a capacidade do país de conter o avanço do vírus também emergem, informa o jornal.
Mas por enquanto, os portugueses estão felizes por “terem escapado do furacão” provocado pela Covid-19 em outros países. Em comparação com a vizinha Espanha, quatro vezes mais populosa, Portugal tem 10 vezes menos casos de contaminação e 16 vezes menos vítimas. Até agora, o país contabiliza 1.977 mortes, enquanto a Espanha tem 31.791 vítimas fatais.
O mais impressionante, segundo a reportagem, é que Portugal conseguiu esses bons resultados apesar de ter enfrentado uma violenta crise econômica, entre 2008 e 2013, durante a qual teve que fazer importantes cortes nos gastos públicos, especialmente no setor da saúde, por imposição de Bruxelas.
Com uma capacidade de 3,5 leitos por 1.000 habitantes de acordo com a OCDE, o sistema público de saúde português é extremamente precário, informa o diário. Para se ter uma ideia, a França tem com 5,9 leitos por 1.000 habitantes.
Comportamento exemplar
A chave do sucesso? Ter reagido rapidamente para evitar a propagação desde o mês de março. O país fechou suas fronteiras, mas o principal foi o isolamento quase espontâneo de toda a população, independentemente das decisões do governo. “O comportamento dos portugueses foi exemplar”, escreve Libération.
Com a alta dos casos, mais de 70% da região metropolitana de Lisboa, as autoridades portuguesas se viram agora obrigadas a baixar medidas restritivas. Desde 15 de setembro, os agrupamentos estão limitados a 15 pessoas, a venda de bebidas alcoólicas está proibida após 20h, e a frequentação de bares e restaurantes localizados nas proximidades de escolas foi reduzida.
Mas nunca a taxa de ocupação dos leitos nas UTIs com casos graves de Covid-19 ultrapassou os 60%. Nas páginas do jornal, a ministra da Saúde, Marta Temido, torce para que “a barragem portuguesa contra o coronavírus, que funcionou até aqui, continue resistindo” e evite também a segunda onda da epidemia.
// RFI