Quando a SpaceX lançou as primeiras 60 unidades da rede Starlink em maio de 2019, a comunidade científica expressou preocupações, prevendo que as observações astronômicas seriam afetadas pelo brilho das unidades que compõe a constelação de satélites.
Meses depois, Elon Musk, CEO da empresa, providenciou uma solução que parecia o suficiente para trazer um pouco de tranquilidade para os cientistas, mas um novo estudo independente mostra que ainda há muito trabalho a ser feito.
Inicialmente, o problema era tão complexo que os satélites Starlink eram visíveis até mesmo a olho nu, estragando completamente astrofotografias e atrapalhando pesquisas científicas. A SpaceX tentou resolver o problema, primeiro com um revestimento que tornou os satélites um pouco menos brilhantes, e os chamou de DarkSat.
Depois, a empresa adicionou um visor nas unidades seguintes — que também eram revestidas do mesmo modo que os DarkSats —, de modo que o reflexo da luz solar na Terra diminuísse drasticamente. A versão com os visores foi batizada de VisorSat.
Em dezembro, observações conduzidas pelo Telescópio Murikabushi do Observatório Astronômico Ishigakijima, no Japão, confirmam que o revestimento escuro aplicado nos satélites eram, de fato, capazes de reduzir o brilho dos Starlink.
Agora, um novo estudo mostra que os VisorSat possuem 31% do brilho dos satélites anteriores, tornando-os praticamente invisíveis a olho nu. Porém, os telescópios ainda podem ser prejudicados pela constelação artificial de Musk. Isso significa que pelo menos uma das preocupações foi aparentemente resolvida — a visão do céu noturno para a população terrestre não será mais afetada.
Agora, resta resolver o problema científico. Mesmo os telescópios espaciais como o Hubble, que ficam na órbita terrestre, podem ter suas observações prejudicadas caso um satélite Starlink passe perto de seus ângulos de visão. Como telescópios costumam capturar imagens acompanhando o movimento aparente de objetos distantes, os satélites podem deixar uma trilha brilhante, destruindo o trabalho dos astrônomos. Uma unidade Starlink pode até mesmo ficar na frente do objeto que se deseja estudar.
Outro tipo de observação científica que pode ser muito prejudicada pela constelação artificial é a busca de asteroides próximos à Terra, pois as imagens capturadas podem estar repletas de “falsas estrelas”, que, na verdade, seriam apenas o brilho dos satélites. Um telescópio usado para detectar e estudar objetos próximos à Terra poderia facilmente confundir unidades Starlink com rochas espaciais, dando ainda mais trabalho para os astrônomos na tarefa de distinguir cada ponto brilhante nas imagens.
Mesmo com a melhoria que os visores trouxeram, os satélites ainda estão cerca de 2,5 vezes mais brilhantes do que a própria SpaceX gostaria. Ou seja, a empresa provavelmente ainda não está satisfeita, e deverá pensar em outras soluções para diminuir o brilho ainda mais nas próximas levas de satélites Starlink. De acordo com a empresa, o objetivo é fazer com que os satélites tenham pelo menos magnitude 7. A magnitude atual é de 5,92 (quanto maior o número, menos brilhante ele é). Para se ter uma ideia, é necessária uma magnitude de 10 para que os objetos fiquem invisíveis a binóculos especiais para astronomia.
A constelação da SpaceX não é a única que preocupa os astrônomos. Há outros projetos semelhantes planejados por empresas como a Amazon e a OneWeb, que podem apresentar problemas semelhantes, com satélites igualmente brilhantes. Pesquisadores temem que a constelação da OneWeb, planejada para ficar a uma altitude ainda maior que a Starlink, possa tornar a maioria das observações de telescópios terrestres “praticamente impossíveis” de realizar.
Quem autoriza o lançamento e o uso de satélites de internet nos Estados Unidos é a Comissão Federal de Comunicações (FFC). De acordo com o órgão, o brilho dos satélites e a possível inviabilidade de observações astronômicas não são uma condição para que o licenciamento seja concedido às empresas — uma realidade que alguns pesquisadores querem mudar para que haja uma regulação global.
A SpaceX ainda não compartilhou os dados de sua própria pesquisa sobre o brilho dos VisorSat. O estudo independente foi publicado no repositório ArXiv e ainda não foi revisado por pares.
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