Em maio, Elon Musk garantiu que seus satélites Starlink não causariam impactos nas observações astronômicas — declaração dada pelo Twitter logo após o lançamento dos primeiros 60 satélites do projeto que visa pelo menos 12 mil unidades, podendo chegar a até 42 mil, para fornecer internet banda larga a todo o planeta.
Na semana passada, a SpaceX lançou o segundo lote de satélites Starlink, com mais 60 unidades orbitando o planeta, e a comunidade científica continuou expressando suas preocupações. Agora, o medo começa a se tornar realidade: astrônomos já estão tendo observações do céu noturno prejudicadas com a luz refletida pelos satélites em questão.
Pelo Twitter, a astrônoma Clarae Martínez-Vázquez, do Observatório Interamericano de Cerro Tololo (CTIO), publicou uma imagem registrada no dia 18 de novembro, mostrando satélites Starlink cruzando o céu acima do observatório.
Em outra imagem, podemos ver exatamente como a passagem dos satélites Starlink já atrapalha observações astronômicas.
Usando o telescópio Blanco 4m, que fica no CTIO, a equipe fez cerca de 40 exposições das Nuvens de Magalhães (galáxias-satélite da Via Láctea), e a fileira de satélites de Elon Musk entrou na visão da câmera cerca de 90 minutos antes do nascer do Sol, refletindo bastante luz e levando 5 minutos para sair da vista do telescópio.
Atualmente, temos cerca de 3 mil satélites ativos orbitando a Terra, e astrônomos já vêm expressando preocupações quanto ao gigantesco aumento na quantidade de objetos artificiais ao redor do planeta com a iniciativa Starlink, bem como com outras similares, como a OneWeb e um projeto da Amazon chamado Kuiper. Um aumento tão significativo de satélites refletindo luz solar no céu noturno significa interferências cada vez mais impactantes nas observações feitas por telescópios a partir da superfície do planeta.
Em períodos de maior escuridão noturna, os satélites Starlink acabam não sendo visíveis, pois ficam envoltos na sombra da Terra. Contudo, pouco antes do amanhecer (o que é um horário considerado nobre para a astronomia), os satélites começam a refletir a luz solar suficiente para se tornarem visíveis.
“Essas coisas são grandes o suficiente para que, quando iluminadas pelo Sol, sejam brilhantes o bastante para serem vistas por qualquer instrumento, de binóculos a [equipamentos] maiores”, disse Cees Bassa, do Instituto Holandês de Radioastronomia. Ainda, cálculos de Bassa estimam que até 140 satélites de constelações do tipo poderão ser visíveis a qualquer momento, se todas as unidades planejadas forem mesmo lançadas.
É verdade que existem técnicas para remover trilhas de satélites que eventualmente passem à frente de telescópios, como ferramentas de processamento de imagem, mas o grande número de novos satélites lançados de uma só vez dificulta essa tarefa.
Muitas das informações que os cientistas precisam usar ficam nas imagens não processadas e, além disso, remover uma única trilha de satélite é uma coisa relativamente simples, mas remover dezenas de trilhas é algo muito mais complicado — especialmente se essas trilhas cruzarem justamente os pixels que mostram uma estrela ou galáxia a ser estudada.
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