Imagens de satélite revelaram a existência de 81 aldeias “perdidas” em uma extensão de 1.800 quilômetros na Amazônia. A descoberta desconstrói a ideia de que a região era uma floresta “intacta”.
Ao contrário do que se pensava até agora, a Amazônia foi um lugar de grande atividade humana e a casa de cerca de 1 milhão de pessoas, há 800 anos. Arqueólogos descobriram provas da existência de 81 aldeias na Amazônia.
Antigamente, pensava-se que as comunidades tinham ocupado as zonas perto dos rios – as zonas mais afastadas continuavam, assim, por explorar. No entanto, novas provas mostram agora que existiram dezenas de aldeias na floresta tropical, longe dos rios, que acolheram diferentes comunidades, que, por sua vez, falavam vários idiomas.
Segundo o estudo, intitulado “Pre-Colombian earth-builders settled along the entire southern rim of the Amazon”, publicado na terça-feira (27) na Nature Communications, revela que essas comunidades influenciaram de forma significativa a floresta amazônica através da agricultura e das suas próprias vivências.
Além disso, o artigo acrescenta que essas populações já existiam bem antes da chegada dos europeus. “Concluímos que as regiões entre rios e afluentes menores do sul da Amazônia mantinham elevadas densidades populacionais, exigindo uma reavaliação do papel dessa região nos desenvolvimentos culturais e no impacto ambiental na era pré-colombiana”, período temporal anterior à colonização europeia, lê-se na publicação.
Vilarejos, fortificações, objetos de cerâmica, machados de pedra e geoglifos foram encontrados por arqueólogos da Universidade de Exeter no estado de Mato Grosso, levando à conclusão de que um trecho de 1.800 quilômetros na margem sul da Amazônia foi ocupado por comunidades entre 1250 e 1500, explica o Público.
O geoglifo é uma figura geométrica de grandes dimensões, cuja percepção normalmente só é possível a partir do alto, e feita geralmente com rochas de cor diferente ou com desgaste de vegetação ou de material geológico.
O estudo mostra que há cerca de 1.300 geoglifos no sul da Amazônia, mas agora foram encontrados apenas 81. Além disso, as imagens de satélite mostram que a terraplanagem, movimentação do solo para a construção de caminhos, estradas e plataformas terrestres, aconteceu durante períodos de seca.
Apesar de neste período ser possível proceder ao desmatamento, as secas não comprometiam a fertilidade do solo, pelo que os agricultores podiam cultivar e plantar árvores de fruto.
“Existe uma ideia errada comum de que a Amazônia é uma paisagem intacta, lar de comunidades nômades dispersas. Algumas das populações que se encontravam longe dos principais rios eram muitos maiores do que se pensava anteriormente e essas pessoas tiveram um impacto no ambiente que ainda hoje podemos verificar”, disse o pesquisador Jonas Gregorio de Souza, do Departamento de Arqueologia da Universidade de Exeter.
O estudo chama ainda a atenção para a importância da Amazônia na biodiversidade e regulação do clima na Terra, pelo que ter isso em conta “é fundamental para tomar decisões políticas conscientes” sobre a sustentabilidade das florestas tropicais no futuro, lê-se no artigo científico.
Embora a maior parte da Amazônia ainda não tenha sido estudada, são trabalhos como esse que significam “que estamos gradualmente juntando mais e mais informações sobre a história da maior floresta tropical do planeta”, concluiu José Iriarte, da Universidade de Exeter e membro da equipe.
Ciberia // ZAP