Médicos no Canadá conseguiram manter viva por seis dias uma mulher que teve os pulmões retirados à espera de um transplante.
Segundo o Toronto General Hospital, o procedimento é inédito e foi a única solução encontrada para salvar a vida de Melissa Benoit, de 33 anos. Foi feito em abril e foi descrito em um artigo publicado na revista médica Journal of Thoracic and Cardiovascular Surgery.
Portadora de fibrose cística, doença crônica que entope os pulmões com muco, ela estava na fila para um transplante, mas desenvolveu uma grave infecção que se espalhou pelo corpo e a deixou à beira da morte.
Os médicos, então, decidiram retirar os pulmões de Melissa (com autorização de seu marido) e a manter viva com a ajuda de aparelhos que oxigenaram seu sangue e o ajudaram a circular. Como tinha sido posta em coma induzido, Melissa só soube o quão perto esteve da morte quando despertou após a cirurgia.
“Não acreditei quando meu marido e meu pai me contaram e demorei bastante para entender tudo”, contou ela ao jornal canadense The Globe and Mail.
Niall Ferguson, diretor do Departamento de Cuidados Críticos do hospital, contou que a situação de Melissa era severa por causa da infecção: seus pulmões estavam entrando em colapso e ela tinha acessos de tosse tão fortes que fraturara costelas. Os antibióticos não surtiam efeito e mesmo quando ela foi entubada a saúde continuou a piorar.
Foi quando os médicos decidiram retirar os pulmões.
“Ela estava morrendo, tínhamos que fazer algo. Foi uma decisão difícil porque faríamos algo nunca antes tentado. Havia uma série de riscos”, conta Ferguson.
Mas a família de Melissa não hesitou em dar permissão para o procedimento, que durou nove horas e envolveu um equipe cirúrgica de 13 pessoas. Shaf Keshavjee, um dos médicos envolvidos, disse que a sorte da canadense começou a mudar naquele momento.
“Vinte minutos depois de tirarmos os pulmões, a pressão arterial de Melissa tinha se normalizado. Mas não sabíamos quanto tempo poderíamos mantê-la viva. E tampouco se levaria um dia ou um mês para termos novos pulmões. Então, tivemos que pensar dia a dia até que um doador compatível surgisse”, explica Keshavjee.
Melissa vinha de meses de internações e ficou tão enfraquecida que sequer conseguiu levantar as mãos quando despertou da cirurgia em que recebeu o novo pulmão.
“A única coisa que ela podia fazer era mostrar a língua“, disse ao jornal a mãe da paciente, Sue Dupuis. “E era a única maneira de os comunicarmos com ela. Pedi que ela nos desse algum sinal de que podia nos ouvir e ela pôs a língua para fora”.
E foi apenas um mês depois do transplante que Melissa percebeu o que era ter novos pulmões. “Foi quando percebi que podia respirar novamente em vez de tossir o tempo todo.”
Em uma entrevista coletiva dada no hospital no início da semana, Melissa pediu que os canadenses doem mais órgãos.
“Sem meu doador e sua família, nada que os médicos fizeram poderia me salvar. A doação me deu uma segunda chance de viver”.
A canadense não quer pensar em muita coisa além de tomar conta da filha, Olívia, de dois anos, e se deliciar com as comidas preferidas depois de meses a fio se alimentando com uma sonda gástrica.
// BBC