Uma freira espanhola recebeu ameaças de morte depois de ter dito, num programa de televisão, que acredita que a Virgem Maria e José faziam sexo.
As declarações foram condenadas pela Igreja e levaram a religiosa a pedir desculpas, mas não sem repetir o que tinha dito e sublinhar que o “sexo é uma bênção”.
A freira Lucía Caram, uma monja dominicana, foi ao programa “Chester In Love”, do canal espanhol Cuatro TV, falar de sexo e não teve papas na língua.
Quando o apresentador Risto Mejide lhe perguntou sobre a virgindade de Maria, a irmã Lucía respondeu que acreditava que ela fazia sexo com José.
“Creio que Maria estava apaixonada por José e que eram um casal normal, e o normal é fazer sexo. Custa a crer e a digerir. Ficamos agarrados a normas que inventámos sem chegar à mensagem verdadeira”, atirou esta freira que é conhecida pelas suas opiniões contra a corrente da Igreja.
A irmã Lucía disse ainda, que a história da virgindade de Maria não tem “credibilidade” e que “tem que haver uma revolução” porque “as Igrejas estão vazias”.
Críticas, ameaças de morte e a condenação da Igreja
Estas declarações despoletaram muitas críticas e a freira até já recebeu ameaças de morte. Foi também lançada uma campanha no site Change.org pedindo à Congregação para a expulsar, considerando que está em causa “um escândalo gravíssimo” e uma “afronta à fé católica”.
Até a publicação deste artigo, a petição já tinha sido assinada por mais de 14 mil pessoas.
Entretanto, o bispo da diocese de Vic, onde se situa a Congregação a que a freira pertence, condenou as declarações, notando que “não são conformes com a fé da Igreja”.
“Faz parte da fé da Igreja, desde o início, que Maria foi sempre virgem e que esta verdade de fé foi recolhida e definitivamente proclamada pelo Concílio de Constantinopla, sendo o primeiro dogma mariano compartilhado por católicos e cristãos ortodoxos”, salienta o bispo num comunicado.
Perante a onda de críticas, a irmã Lucía sentiu-se obrigada a esclarecer as suas declarações e a fazer um pedido de desculpas público, por meio de uma nota à impressa que é transcrita na íntegra pelo site Catalunyareligio.cat.
“Se alguém se sentiu ofendido, peço desculpas”, destaca a freira, mas não sem repetir as mesmas ideias que defendeu no programa de televisão.
“Falei de sexo como uma bênção quando se vive sem egoísmos e com respeito pelo outro e manifestei a minha fidelidade à opção de vida que escolhi, vivendo a virgindade como uma opção que se antepôs às dificuldades, pela força da vocação e da missão”, escreve a irmã Lucía.
“Manifestei, como creio, que Maria estava, certamente, apaixonada por José e acredito que ela era uma mulher plena, como demonstra a sua presença discreta, mas contundente nos Evangelhos”, acrescenta.
“Quis manifestar que não me escandalizaria se tivesse tido uma relação de parceira com José, o seu esposo, e creio que tudo isto entra no mistério, no depósito da fé, e também de uma fé que uns vivem e aceitam simplesmente e outros, sem menos simplicidade, com a fé que também procuramos entender”, conclui a freira dominicana.
Ela reafirma também a sua “fidelidade e amor à Igreja, ao Evangelho e ao projeto de Jesus” e sublinha a “certeza de que o sexo não é sujo, nem algo condenável e que o matrimônio e o sexo são uma bênção”.
No seu perfil no Twitter, onde é particularmente ativa, a irmã Lucía também comentou o caso, assegurando que as suas palavras não a distanciam “da fé, nem da comunhão com a Igreja”.
A irmã Lucía nota ainda a sua preocupação com o que diz ser uma “leitura fragmentada, ideológica e perversa que alguns martelos de hereges, sedentos de vingança e animados pelo ódio” fizeram das suas palavras, reagindo com “calúnias” e “ameaças sérias” à sua própria vida.
E, a título de mensagem final, reforça que “somos homens e mulheres, livres para amar, e chamados para servir de diversos modos”. No caso dela, diz que está ao serviço dos “mais pobres”.
Uma freira com “cojones“
A irmã Lucía é a mais conhecida das freiras espanholas, especialmente pelas suas posições controversas. Num outro programa de televisão, defendeu que ninguém pode condenar se duas pessoas homossexuais resolverem casar.
O jornal La Vanguardia fala dela como uma “monja dominicana que tem tudo menos pêlos na língua” e é conhecida como a “freira cojonera“. “Se me chamam monja cojonera, é porque os toco”, disse numa outra entrevista a propósito disso.
Com vários livros publicados e com índices de vendas bem generosos, a irmã Lucía assume, no seu perfil do Twitter, que é “uma freira inquieta e inquietante” que só tenta “ser feliz e fazer felizes os demais”.
A religiosa de 49 anos é considerada uma ativista social, na Espanha, particularmente preocupada com os direitos das crianças e é fã do Barcelona, não se inibindo de celebrar no Twitter os gols de Messi.
No programa de televisão que despoletou toda a polémica, a freira também admitiu que já esteve apaixonada e que só não teve uma relação amorosa com um homem para “ficar absolutamente livre para a causa” religiosa.
Na sua típica frontalidade, não se esquivou a falar de assuntos mais íntimos relacionados com a sua sexualidade. “Assim como te disse que sou virgem e que nunca tive relações sexuais, também te digo que não me masturbo“, confessou a irmã Lucía.
// SV, ZAP