Embora muitas incertezas pairem sobre as consequências econômicas do Brexit, para Frankfurt, capital financeira da Alemanha, a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) pode ser um bom negócio.
A cidade de pouco mais de 687 mil habitantes no oeste da Alemanha espera receber instituições financeiras que, com este processo de divórcio, devem deixar Londres para garantir sua presença no bloco.
Além de instituições financeiras, Londres perderá ainda a Autoridade Bancária Europeia (EBA), agência reguladora da UE com sede na capital britânica. Por já sediar o Banco Central Europeu (BCE), as chances de Frankfurt receber a EBA são boas.
Porém, a disputa por essas instituições é grande; a cidade alemã tem concorrentes de peso, como Paris, Dublin, Amsterdã e Luxemburgo.
“A procura dos bancos por locais para transferência dos negócios de Londres gerou quase como um concurso de beleza entre as cidades europeias”, afirma o economista Stefan Kooths, do Instituto para Economia Mundial da Universidade de Kiel.
Segundo especialistas ouvidos pela BBC Brasil, esse “concurso” está no começo e ainda é difícil determinar quem será o vencedor. Mas Frankfurt largou na frente. Em dezembro passado, o instituto financeiro suíço UBS escolheu a cidade alemã para sediar sua filial europeia.
Em janeiro, entretanto, a rede bancária britânica Barclays anunciou que pretende abrir em Dublin a sucursal para negócios europeus.
Pedra no caminho
Para especialistas, a principal concorrente de Frankfurt é Paris. Apesar de a metrópole francesa ser visto por muitos como o principal centro financeiro da Europa continental, a cidade alemã tem a grande vantagem de sediar o BCE. A proximidade com o banco central seria um dos fatores levado em consideração pelas instituições na busca por uma nova sede.
Além disso, Frankfurt possui mais de 150 bancos internacionais, tem um custo de vida e aluguéis mais baratos do que a principal concorrente, abriga o terceiro maior aeroporto da Europa e conta com uma ampla infraestrutura de transporte. Juntos, esses aspectos podem contribuir para consagrar a cidade como capital financeira da Europa.
As leis trabalhistas alemãs, no entanto, podem ser uma pedra nesse caminho. “O grande empecilho não é específico de Frankfurt, é um problema alemão, que são as leis trabalhistas restritivas, além da falta de uma cultura de imigração para atrair mão de obra estrangeira qualificada”, afirma Kooths.
Entre as exigências dos bancos estaria uma mudança na legislação para facilitar demissões, principalmente, em cargos nos quais os salários ultrapassem 250 mil euros por ano. Mas segundo o jornal alemão Welt, o governo alemão não pretende fazer essas modificações nas leis trabalhistas.
Disputa em aberto
Apesar das boas perspectivas para a cidade alemã, o economista Thore Schlaak, do Instituto Alemão para Pesquisas Econômicas (DIW), diz que é muito cedo para fazer estimativas. “Não está claro, por exemplo, se as instituições financeiras realmente sairão de Londres ou manterão as sedes na cidade para apenas abrir sucursais na UE”, destaca.
Já o economista Michael Thöne, do Instituto de Pesquisa Financeira da Universidade de Colônia, avalia que não haverá apenas um ganhador nesta competição.
“Londres deve continuar sendo importante em algumas aéreas no setor financeiro. Na gestão de ativos, por exemplo, ela é principal cidade no mercado global e muitas instituições devem optar por continuar lá. As que saírem devem se dividir entre as cidades europeias que as disputam”, acrescenta Thöne.
Devido à complexidade de uma possível mudança, especialistas estimam que as instituições financeiras com sedes em Londres devem anunciar suas estratégias e opções até meados deste ano, para dar então início ao processo de transferência, que pode durar cerca de dois anos.
// BBC