Ver filmes pode ser uma boa alternativa à anestesia geral em crianças com câncer sujeitas a sessões de radioterapia, conclui um estudo coordenado por uma radioterapeuta portuguesa e divulgado este domingo (8).
Segundo o estudo, as crianças podem ser poupadas de receberem dezenas de doses de anestesia geral se assistirem a um filme que gostam projetado no interior da máquina de radioterapia enquanto fazem o tratamento.
O trabalho, que partiu de uma pequena amostra, foi coordenado por Cátia Águas, radioterapeuta e dosimetrista das Clínicas Universitárias de São Lucas, em Bruxelas. A especialista apresentou o estudo em uma conferência da Sociedade Europeia de Radioterapia e Oncologia, em Viena, Áustria.
De acordo com Cátia Águas, citada em comunicado pela Sociedade Europeia de Radioterapia e Oncologia, o uso de vídeos em vez da anestesia geral é menos traumático para as crianças e suas famílias e torna cada sessão de tratamento mais rápida e rentável.
A anestesia geral tem sido a solução utilizada pelos médicos para manter as crianças quietas durante as sessões de radioterapia, um tipo de tratamento direcionado contra o tumor com grande precisão, como em cânceres na cabeça, ossos e tecidos moles, e que requer, para ser bem-sucedida, ausência de movimentos.
Uma vez que os tratamentos, normalmente diários, podem se prolongar por um mês ou um mês e meio, isso significa, segundo Cátia Águas, que as crianças têm que se submeter a várias doses de anestesia geral semanais e estar em jejum de seis horas antes de cada sessão de tratamento.
O estudo abrangeu 12 crianças, entre 1 ano e meio e 6 anos, com metade delas sendo tratada antes do projetor de vídeo ser instalado, em 2014. A outra metade foi tratada depois de o projetor estar funcionando.
Antes de os vídeos estarem disponíveis, a anestesia geral era necessária em 83% dos tratamentos. A porcentagem caiu para os 33% quando as crianças passaram a poder ver um filme de sua escolha.
Além de evitar alguns dos riscos associados à anestesia geral, a experiência revelou que cada sessão de radioterapia passou a demorar 15 a 20 minutos, em vez de uma ou mais horas, em parte porque não só as crianças ficaram mais colaborativas, pois sabem que vão ver um filme que apreciam, mas também deixaram de ser necessários os preparativos que uma anestesia geral exige.
Desde que Cátia Águas começou a projetar filmes nas sessões de radioterapia, as crianças ficaram mais relaxadas e menos ansiosas. A radioterapeuta pretende agora alargar o método a doentes adultos ou que sofram de claustrofobia e de ansiedade.
// ZAP