O consumo alcoólico excessivo e prolongado durante a adolescência e a juventude afeta o desenvolvimento cerebral, causando alterações visíveis em electroencefalograma, e aparece de forma diferente nos cérebros de homens e mulheres, com mais alterações funcionais no sexo masculino.
O congresso anual do colégio Europeu de Neuropsicofarmacologia começou nesta segunda-feira (4) e continua até esta terça em Paris. Lá, foram apresentadas duas conclusões de um estudo realizado por cientistas finlandeses. Além do consumo continuado de álcool causar alterações visíveis em electroencefalograma, essas alterações divergem em homens e mulheres.
“Há mais alterações na atividade elétrica do cérebro nos homens do que nas mulheres, devido ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas”, explica Outi Kaarre, a pesquisadora do hospital da Universidade de Kuopio e uma das autoras do estudo.
Os resultados mostram que existem alteração elétricas e químicas no cérebro, com especial relevância para o neurotransmissor GABA e seus receptores neuronais de dois tipos diferentes: A e B.
Nas mulheres, o consumo excessivo de álcool afeta apenas os receptores de tipo A nas mulheres, enquanto que os homens veem os dois tipos de receptores serem afetados. No entanto, segundo os pesquisadores, ainda não é possível determinar com clareza como é que a nova conclusão pode ser interpretada ou o que ela implica.
De acordo com Outi Kaarre, “o GABA é um neurotransmissor fundamental, que está envolvido na inibição de muitos dos sistemas e funções cerebrais e que tem um papel importante, por exemplo, nas perturbações de ansiedade e depressão. Este neurotransmissor tem um efeito de diminuir ou acalmar a atividade cerebral”.
No estudo foram analisadas 27 pessoas, das quais 11 homens e 16 mulheres, com idades entre 23 e 28 anos e um histórico de 10 ou mais anos de consumo excessivo de álcool.
Todos tinham alterações nos electroencefalogramas depois de aplicada estimulação magnética transcraniana, que estimula a atividade neuronal. Sujeitos da mesma idade e sem esse histórico não apresentaram as alterações.
Estudos feitos em animais mostraram entretanto que o receptor GABA-A está associado a padrões de menor consumo de álcool, enquanto o GABA-B está mais presente no processo cerebral ligado ao desejo de beber.
Por isso, a equipe finlandesa acredita que os resultados “podem ser a porta para um possível mecanismo que explique as diferenças entre homens e mulheres” em relação ao consumo de álcool.
// ZAP