O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), diz estar “convencido” de que foi gravado pelo empresário Joesley Batista, da JBS. Gilmar recebeu o empresário em Brasília em 1º de abril, um sábado, na sede do IDP, escola de direito da qual o ministro é sócio.
O encontro, solicitado pela JBS, ocorreu três semanas após Joesley Batista ter gravado secretamente o presidente Michel Temer no Palácio do Jaburu. Àquela altura, Joesley já se preparava para acertar um acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República.
Em uma gravação inédita, cujo teor veio a público na semana passada, o dono da JBS e Ricardo Saud, um de seus principais executivos, tratam da possibilidade de incluir na delação informações sobre ministros do STF – eles falam em “dissolver o Supremo”.
Gilmar Mendes diz que, sabendo agora que os delatores pretendiam atingir o tribunal, acredita que o encontro, ocorrido em pleno processo de negociação da colaboração premiada, foi gravado por Joesley.
“Hoje eu estou convencido de que sim. Eu acho que ele gravou a conversa. Porque a insistência [para marcar o encontro] foi tanta… Nessas conversas eles falam que queriam destruir o Supremo, né!?”, diz o ministro.
“Mas a conversa correu normal. Foi uma conversa absolutamente normal. Eu não tenho a menor preocupação com isso”, emenda.
O encontro foi agendado por meio de Dalide Corrêa, então braço-direito do ministro no IDP. Ela costumava negociar patrocínios – inclusive da JBS – a eventos da escola de direito.
Segundo Gilmar Mendes, na reunião, ele e Joesley se limitaram a discutir um processo de interesse do setor do agronegócio que seria julgado dias depois pelo plenário do STF – o ministro lembra que votou contra os interesses da empresa.
Preocupação
Uma reportagem da mais recente edição de VEJA revelou um conjunto de arquivos que mostra tentativas da JBS de interferir em decisões a cargo de ministros de tribunais superiores.
Em conversa gravada, uma advogada da companhia diz ter sido acionada por Dalide Corrêa – já depois de a delação premiada vir a público – para convencer integrantes da cúpula da JBS a não revelar algo que seria comprometedor para ela própria e também para o ministro Gilmar Mendes.
Dalide Corrêa estaria preocupada, em especial, porque o diretor jurídico da JBS, Francisco de Assis, havia reproduzido trechos de uma troca de mensagens mantida entre os dois por meio de um aplicativo de telefone celular.
Procurado por VEJA, Francisco de Assis confirmou ter feito o print-screen de uma troca de mensagens de Dalide Corrêa, mas disse não se lembrar do teor das mensagens.
Ele admitiu que o apelo da então assessora de Gilmar Mendes chegou à direção da empresa. Perguntado se Joesley gravou Gilmar Mendes, Francisco de Assis saiu pela tangente. “Eu não gravei”, limitou-se a dizer.
“Não sei qual era a preocupação da Dalide. Se for preocupação com gravação, talvez seja uma preocupação normal dela. Acho que ela se sentiu culpada porque foi ela que propiciou o encontro”, disse o ministro Gilmar Mendes a VEJA.
Dalide Corrêa, àquela altura diretora do IDP, deixou o instituto oficialmente na semana passada. Ela e Gilmar Mendes dizem que o desligamento vinha sendo negociado havia algum tempo e não guarda relação com a crise envolvendo a JBS.
Áudio no exterior
Em depoimento na quinta-feira (7), Ricardo Saud informou que gravou conversa com o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo (PT) e teria enviado o áudio ao exterior. De acordo com a Folha, a informação consta no pedido de prisão dele, de Joesley Batista e do ex-procurador Marcelo Miller.
Segundo a PGR, conversas como a de Cardozo “não apenas deixaram de ser entregues ao Ministério Público Federal como foram levadas ao exterior, em aparente tentativa de ocultação dos arquivos das autoridades”.
No áudio, o ex-ministro da Justiça teria discorrido sobre quais políticos exercem influência sobre vários ministros do STF. Do encontro também participou o dono do grupo, Joesley Batista.
Ciberia // Rede GNI