Uma equipe de pesquisadores dinamarqueses descobriu que não são só as mães da espécie Stegodyphus dumicola que se sacrificam para que os filhotes não passem fome. As fêmeas sem ovos fazem o mesmo.
Todos sabemos que criar filhos não é tarefa fácil. Mas, no caso das mães da espécie Stegodyphus dumicola, a realidade é ainda mais dura. Geralmente, estas aranhas têm uma expectativa média de vida muito curta porque, se o alimento for escasso, oferecem o próprio corpo aos filhotes para que eles não fiquem sem comer.
E se você está pensando que as fêmeas sem filhos acabam se safando, está muito enganado. As aranhas que nunca tiveram filhos também se oferecem como sacrifício para os “sobrinhos”.
Um novo estudo, publicado na Animal Behaviour, mostra que as fêmeas virgens em ninhos comunais (as tias, chamemos assim) ajudam as mães aranhas no desempenho dos deveres maternos, um fenômeno chamado de “alloparenting”.
No caso da Stegodyphus dumicola, os pesquisadores acreditam que se trata de um cuidado materno “extremo e suicida”, também conhecido como “matrifagia”, isto é, quando as mães desistem dos próprios corpos para alimentar as crias.
“As aranhas literalmente começam a se alimentar da fêmea enquanto ela ainda está viva”, descreve o biólogo Trine Bilde, da Universidade Aarhus, na Dinamarca. “Mas sem agressão aparente. É como se a própria fêmea convidasse os filhotes da família para se alimentarem do seu corpo”, continua.
O estudo envolveu a observação de 200 experimentos durante dez semanas. O que mais surpreendeu os cientistas foi o sacrifício das fêmeas que não eram mães.
A equipe pensa que se trate de um mecanismo evolutivo, uma vez que o objetivo é passar os genes aos próximos, mesmo que não sejam daquela aranha específica, mas sim de uma parente próxima.
“Quanto mais cópias dos genes forem propagadas para a próxima geração, melhor, por isso, oferecer o corpo como comida é uma solução evolutiva que faz sentido”, diz Bilde.
Outra hipótese do biólogo Jonathan Pruitt, da Universidade da Califórnia, nos EUA, e que não participou no estudo dinamarquês, é que as aranhas são simplesmente pouco inteligentes para perceber que aqueles não são seus filhotes.
“Suspeito que as fêmeas não são capazes de discriminar entre os próprios ovos e o das outras. A colônia é composta por indivíduos geneticamente próximos, então mesmo que produzam os próprios ovos, há sempre benefícios em ajudar as parentes”, conclui.
Uma coisa é certa: nunca devemos questionar o amor de mãe e, pelo visto, de tia.
Ciberia // HypeScience / ZAP