Cientistas chineses descobriram que pelo menos uma espécie de aranha amamenta seus filhotes, de uma maneira muito parecida com os mamíferos, e com uma substância riquíssima em proteína – bastante semelhante ao leite.
Em uma noite de verão em 2017, Zhanqi Chen, pesquisador do Jardim Botânico Tropical de Xishuangbanna, fez uma descoberta curiosa no seu laboratório, em Yunnan. Em um ninho artificial, observou uma aranha ligada à mãe.
Estudos de Chen e Quan Rui-Chang, ecologistas comportamentais, confirmaram que as fêmeas estavam de fato produzindo leite para os seus filhotes – e continuaram a fazê-lo mesmo depois de os bebês se tornaram adolescentes.
Fornecer leite e cuidados a longo prazo é praticamente inédito em insetos e outros invertebrados. Com exceção dos mamíferos, nem é comum entre os vertebrados.
Os resultados “ajudam a aumentar a compreensão sobre as origens evolutivas de formas complexas de cuidado parental”, diz Nick Royle, um ecologista comportamental, que não esteve envolvido no trabalho. As conclusões, publicadas na revista Science no dia 30 de novembro, sugerem que a maternidade prolongada pode não exigir o complexo poder cerebral que os pesquisadores assumiram anteriormente.
As fêmeas dessa espécie de aranha – Toxeus magnus – colocam entre dois e 36 ovos de cada vez. Assim que os ovos eclodem, a mãe começa a depositar pequenas gotículas ao redor do ninho. Quando os membros da equipe analisaram o líquido, descobriram que continha quatro vezes mais proteína do que o leite de vaca, além de gordura e açúcar.
Nos primeiros dias, as aranhas bebês beberam gotinhas do leite de aranha ao redor do ninho. Mas, pouco depois, começaram a se alinhar perto da mãe para amamentar. Aos 20 dias, começaram a caçar fora do ninho, mas eles ainda complementaram sua dieta com leite materno.
Quando Chen bloqueou a capacidade de produção de leite da mãe, todas as aranhas com menos de 20 dias morreram. Quando retirou a mãe do ninho, as aranhas mais velhas cresceram mais devagar, deixaram o ninho mais cedo e tinham maior probabilidade de morrer antes da idade adulta.
Apesar de a mãe parecer cuidar de todos os filhotes igualmente, apenas as filhas podiam voltar ao ninho depois de se desenvolverem sexualmente. Machos adultos eram atacados se tentassem regressar.
Embora os pesquisadores não saibam exatamente o que é o “leite”, especulam que podem ser ovos liquidificados que saem prematuramente do canal do parto.
Alguns anfíbios e outros invertebrados colocam “ovos tróficos” semelhantes para os filhos, embora apenas quando os filhotes são muito jovens. As baratas também produzem “leite”, mas essa nutrição é simplesmente absorvida passivamente pela casca de ovo dos embriões e não faz parte das dietas dos filhotes.
Ciberia // ZAP