Autoridades mexicanas descartaram, nesta quinta-feira, a existência de uma menina chamada Frida Sofía, que estaria soterrada nos escombros da escola Enrique Rébsamen, que desabou na Cidade do México.
Jornais locais divulgaram informações de que a menina teria mexido a mão ou pedido água debaixo dos escombros. Mas Frida Sofía nunca existiu.
O falso drama fez o México reviver a história da busca por “Monchito”, um sobrevivente do arrasador terremoto de 1985 que também nunca existiu.
Nesta quinta-feira, a Marinha mexicana pediu desculpas por ter divulgado que haveria uma aluna de 12 anos sob os escombros e que ela teria sobrevivido ao se proteger debaixo de uma mesa de granito no momento em que a terra tremeu.
“A informação foi difundida pela Marinha com base nos informes técnicos e testemunhos de socorristas civis e desta instituição”, disse o subsecretário da Marinha, Ángel Enrique Sarmiento Beltrán, num comunicado à imprensa na noite de quinta-feira.
“Depois de nova informação obtida no local e, de ser finalizado o censo dos alunos por parte da Secretaria de Educação, chegamos a conclusão de que, em caso de haver um sobrevivente, não seria necessariamente um menor de idade. Ofereço aos mexicanos minhas desculpas.”
Beltrán afirmou, contudo, que os esforços de resgate continuam enquanto houver a possibilidade de que haja sobreviventes sob os escombros, e que morreram 19 crianças que estudavam na Enrique Rébsamen. Outros alunos estão com suas famílias ou se recuperam de ferimentos em hospitais.
“Nosso objetivo não foi gerar falsas expectativas. Estamos compartilhando todas as informações recebidas dos socorristas e das análises técnicas”, disse um porta-voz da Marinha, o almirante José Luis Vergara, salientando que a instituição tem tentado ser transparente e repassar informações em tempo real.
A escola desabou na terça-feira após o terremoto de magnitude 7,1 atingir a região central do México e deixar mais de 280 mortos. Muitos meios de comunicação mexicanos e internacionais, como a BBC, reportaram que haveria uma criança soterrada com o nome Frida Sofía.
As informações foram divulgadas por fontes oficiais, como a Marinha do México. As autoridades também chegaram a dizer, por exemplo, que a menina estaria em um ponto de difícil acesso dos escombros e que as equipes de resgate não conseguiam encontrar uma forma de chegar até ela sem risco de um novo desabamento.
Foi dito até mesmo que, com ajuda de uma mangueira, os bombeiros conseguiram levar água até a menina. Mas havia um certo mistério neste drama. Não surgiram parentes da menina e o ministro da Educação, Aurelio Nuño, disse que pode ter havido um “erro” na identificação da menina.
Houve críticas ao que já está sendo chamado de “reality show” da cobertura da história de “Frida Sofía”. A Televisa, a maior rede de televisão mexicana, publicou um desmentido nesta quinta-feira.
O falso drama de ‘Monchito’
A história lembra outro falso drama vivido pelo México, há 32 anos.
Na ocasião, o jornal El Universal contou até detalhes da vida de Luis Ramón “Monchito”, que supostamente teria sido soterrado junto com o avô na manhã de 19 de setembro de 1985, quando um terremoto de magnitude 8,1 abalou o país deixando milhares de mortos e feridos.
A história de que equipes de resgate buscavam pelo garoto de 9 anos nos escombros do apartamento correu o país e o mundo. Depois de vários dias de busca, as equipes de resgate, entre eles a Marinha do México, determinaram que não havia sobreviventes no local.
Mas um socorrista argentino afirmou ter ouvido barulhos de alguém com vida debaixo dos escombros, o que trouxe nova esperança para as equipes.
O então presidente do país, Miguel de la Madrid, ordenou que a busca por Monchito fosse mantida a qualquer custo. Mas todos os esforços foram em vão e, três semanas depois, as buscas foram interrompidas.
E aos poucos veio à tona a verdade: “Monchito” não existia.
Não se sabe ao certo quem criou o falso drama. El Universal diz que a história pode ter sido inventada por pessoas que tentavam recuperar um cofre com dinheiro que estaria na propriedade do avô da criança ou que queriam roubar objetos de valor dos escombros do prédio que caiu com o terremoto.
Outros jornais apontam para outras hipóteses, como um caso de histeria coletiva, uma invenção de um familiar do suposto avô, ou mesmo uma história inventada por jornalistas.
// BBC