Cientistas britânicos decifraram quantas mutações são necessárias para transformar uma célula saudável em cancerígena: entre uma e dez, dependendo do tipo de tumor.
As descobertas foram feitas por cientistas do Welcome Trust Sanger Institute e publicadas nesta quinta-feira (19) na revista científica Cell. Durante décadas, o assunto deste estudo foi alvo de calorosos debates entre cientistas que trabalham em pesquisas sobre o câncer.
Segundo os cientistas, as mais recentes descobertas podem agora aprimorar o tratamento contra a doença. Quando se compara uma célula saudável com uma cancerígena, é possível encontrar dezenas de milhares de diferenças, ou mutações, no DNA, informa a BBC.
Algumas dessas mutações fazem com que o câncer se desenvolva, enquanto outras não têm qualquer impacto no desenvolvimento. Por isso, os autores do estudo foram descobrir quais eram, de fato, importantes.
Para isso, os cientistas analisaram o DNA de 7.664 tumores para encontrar mutações perigosas, que transformam células saudáveis em cancerígenas.
Com isso, os cientistas fizeram três importantes descobertas: uma única mutação é capaz de provocar câncer da tiroide e do testículo, quatro mutações são capazes de provocar câncer de mama e do fígado e dez mutações provocam câncer colorretal.
“Há décadas tínhamos conhecimento sobre as bases genéticas do câncer, mas a discussão sobre quantas mutações são responsáveis pela transformação em célula cancerígena era controversa”, diz Peter Campbell, autor principal do estudo.
“O que conseguimos nesta pesquisa foi fornecer os primeiros dados objetivos. Das milhares de mutações no genoma do câncer, só uma pequena porção é responsável por ditar o comportamento da célula, o que a torna cancerígena”, explica.
Metade das mutações identificadas ocorreu em conjuntos de genes que nunca tinham sido associados ao câncer antes. O objetivo do estudo, a longo prazo, é promover tratamentos mais precisos contra a doença.
Ao descobrirem quais as mutações, entre milhares, que estão fazendo o câncer avançar, os médicos poderão determinar os medicamentos mais eficazes para combater especificamente determinada mutação. Drogas como o herceptin e os inibidores BRAF já são usadas para atacar mutações em tumores.
A identificação das mutações capazes de transformar uma célula em cancerígena foi possível graças ao uso da teoria da evolução de Charles Darwin.
Geralmente, essas mutações deveriam aparecer com mais frequência nos tumores do que em mutações “neutras” – aquelas que não transformam células saudáveis em cancerígenas.
Segundo os cientistas, isso ocorre porque as forças da seleção natural garantem uma vantagem evolutiva às mutações que ajudam as células a crescerem e se dividirem mais rapidamente.
No entanto, Nicholas McGranahan, do Instituto de Pesquisa do Câncer do Reino Unido e do Instituto do Câncer da Universidade College London (UCL), faz ressalvas ao alcance da descoberta.
“O câncer é uma doença que está sempre em desenvolvimento e constante mudança. Faz sentido usar essas ideias de evolução das espécies para analisar falhas genéticas que permitem o crescimento do tumor, mas esse estudo foca apenas em uma parte da evolução do câncer. Só ajuda a resolver parte do quebra-cabeça”, pondera.
Segundo o cientista, outros componentes do DNA acomodados nos cromossomos também são peças-chave na identificação das causas de surgimento do câncer e precisam ser analisados para permitir uma resposta clara sobre a evolução da doença.
Ciberia // ZAP