Os modelos de formação de galáxias sugerem que novas estrelas aumentam lentamente o tamanho da galáxia em que residem.
Cristina Martínez-Lombilla, que faz doutorado no Instituto de Astrofísica das Canárias em Tenerife, na Espanha, e seus colaboradores, acreditam que a galáxia que habitamos, a Via Láctea, pode estar ficando maior.
O trabalho da equipe foi apresentado em uma palestra, na semana passada, durante a Semana Europeia de Astronomia e Ciências Espaciais, em Liverpool.
O Sistema Solar está localizado num dos braços do disco de uma galáxia espiral barrada – a Via Láctea –, com um diâmetro de cerca de 100 mil anos-luz. Nossa Galáxia é formada por várias uma centena de bilhões de estrelas, com enormes quantidades de gás e poeira, componentes interligados que interagem através da força da gravidade.
A natureza dessa interação determina a forma de uma galáxia, que pode ser espiral, elíptica ou irregular. Sendo uma espiral barrada, a Via Láctea tem um disco no qual estrelas, poeiras e gases se encontram principalmente em um plano, com braços que se estendem para fora de uma barra central.
No disco da Via Láctea existem estrelas de muitas idades diferentes. Estrelas azuis, quentes e maciças são muito luminosas e têm uma vida relativamente pequena de milhões de anos, enquanto estrelas de massa menor eventualmente se tornam mais avermelhadas e mais fracas, podendo durar dezenas de bilhões de anos.
As estrelas mais jovens podem ser encontradas no disco da galáxia, onde novas estrelas continuam se formando, ao passo que as estrelas mais antigas dominam a protuberância ao redor do centro galático e o halo que circunda o disco.
Algumas regiões de formação estelar podem ser encontradas na orla externa do disco, e os modelos de formação de galáxias preveem que novas estrelas aumentem lentamente o tamanho da galáxia em que residem.
Um problema em estabelecer a forma da Via Láctea é que vivemos dentro dela, de modo que os astrônomos olham para galáxias similares em outros lugares como análogas à nossa.
Martínez-Lombilla e colegas se propuseram a estabelecer se outras galáxias espirais parecidas com a Via Láctea estão realmente ficando maiores e, em caso afirmativo, o que isso significa para a nossa própria galáxia.
Assim, usaram o telescópio terrestre SDSS para dados óticos, e os dois telescópios espaciais GALEX e Spitzer para dados de ultravioleta próximo e infravermelho próximo, respectivamente, a fim de examinar detalhadamente as cores e movimentos das estrelas no final dos discos de outras galáxias.
Os pesquisadores mediram a luz nessas regiões, predominantemente proveniente de jovens estrelas azuis, e mediram o movimento vertical (para cima e para baixo no disco) das estrelas para descobrir quanto tempo levaria para se afastarem dos seus locais de nascimento, e como as galáxias hospedeiras cresciam em tamanho.
Com base nisso, calcularam que as galáxias como a Via Láctea crescem a cerca de 500 metros por segundo, depressa o suficiente para cobrir a distância de Liverpool a Londres em aproximadamente 12 minutos.
“A Via Láctea já é enorme. Mas o nosso trabalho mostra que pelo menos a sua parte visível aumenta lentamente de tamanho, à medida que se formam estrelas na periferia galática”, explica Martínez-Lombilla.
“Não é um crescimento rápido, mas se pudéssemos avançar no tempo e olhar para como a galáxia seria daqui a 3 bilhões de anos, seria cerca de 5% maior do que é hoje”, destaca.
O crescimento lento pode ser irrelevante no futuro distante. É previsto que a Via Láctea colida com a vizinha galáxia de Andrômeda daqui a cerca de 4 bilhões de anos, e a forma de ambas mude radicalmente à medida que se fundem. E a nossa galáxia, que já é enorme, ficará monstruosamente gigante.