A Arábia Saudita inaugurou nesta quarta-feira (18) o primeiro cinema comercial, pondo fim a uma proibição de quase 40 anos, em um esforço do príncipe saudita para modernizar o reino conservador.
Segundo a Reuters, o novo cinema, construído em uma antiga sala de concertos em Ríade, foi inaugurado com pompas em um evento VIP e com direito a tapete vermelho. Membros do governo e autoridades estrangeiras assistiram ao filme da Marvel “Black Panther” (Pantera Negra) em uma tela de quase 14 metros.
O diretor executivo da AMC Enternainment Holding, Adam Aron, disse que os bilhetes estão à venda a partir desta quinta-feira (19) e as primeiras projeções começam na sexta. “Os sauditas vão agora poder ir a um cinema lindo e ver filmes na forma como é suposto serem vistos: na telona”, disse à agência.
A inauguração do cinema comercial marca mais um passo nas reformas iniciadas pelo príncipe Mohammed bin Salman, que pretende abrir o país culturalmente e diversificar a economia.
Nos últimos dois anos, o príncipe saudita de 32 anos já revogou algumas proibições, incluindo shows públicos e autorizou que mulheres possam dirigir e assistir a jogos nos estádios de futebol.
Segundo a Reuters, muitos sauditas elogiaram a reintrodução do cinema no país, uma proibição com quase 40 anos, e compartilharam elogios ao príncipe nas redes sociais. Outros expressaram confusão com a medida, considerando-a uma mudança radical.
Os cinemas foram proibidos na década de 80, sob pressão dos islamitas, numa época em que a sociedade abraçou uma severa versão conservadora do Islã. Porém, a cultura ocidental nunca deixou de estar presente no país, com os filmes de Hollywood e as séries sendo vistos em casa (projeções de filmes privadas já eram toleradas há muitos anos).
Em 2017, o governo saudita informou que iria revogar a proibição, em parte para manter o dinheiro que muitos sauditas gastam em entretenimento em outros países como, por exemplo, Dubai e Bahrain.
Para servir uma população com mais de 32 milhões de pessoas, a maioria com menos de 30 anos, as autoridades planejam construir cerca de 350 cinemas com mais de 2.500 telas até 2030, esperando atrair bilhões de dólares só na venda anual de bilhetes.
No mês passado, uma fonte confirmou à agência Reuters que não haverá segregação nos cinemas, assim como ainda acontece na maioria dos espaços públicos.
Embora não seja ainda claro como será aplicada a censura, fontes oficiais indicaram que as versões dos filmes que passam em Dubai ou no Kuwait serão readequadas. Por exemplo, duas cenas de beijos que aparecem em Pantera Negra foram cortadas.
Ciberia // ZAP