Uma equipe de cientistas descobriu que as células das plantas se comunicam a partir de proteínas que existem nas células cerebrais dos animais.
Um estudo realizado por uma equipe internacional de cientistas descobriu que as células das plantas se comunicam usando proteínas que existem nas células cerebrais dos animais, mas que desempenham funções distintas.
A erva-estrelada (Arabidopsis thaliana) foi a primeira planta a ter o genoma completamente sequenciado, mas para essa equipe tem um simbolismo especial: é a segunda vez que a pesquisa com essa planta garante a capa da Science, uma das mais exigentes revistas científicas.
Nesta segunda capa, os pesquisadores nos presentearam com um novo modelo para a comunicação entre as células das plantas, um estudo que é o ápice de quase oito anos de pesquisa.
Ao Observador, Meagan Phelan, diretora executiva Science Press Package, esclarece que o artigo científico “se destacou por ter um interesse visual claro, com base nas imagens que os autores forneceram”.
Segundo a responsável, o objetivo é que as capas reflitam a diversidade de disciplinas cujos trabalhos são publicados na revista, mas a imagem deve também ser apelativa em termos gráficos.
“A competição é feroz, porque a visibilidade que a capa de uma revista dessas acarreta é ridícula, e muitas vezes desproporcionada em relação ao peso da ciência associada. Quando se consegue duas, como é até agora o nosso caso na Science, é como ganhar na loteria”, afirma José Feijó, um dos autores do artigo.
O estudo permite compreender melhor a defesa das plantas contra infecções, sua reprodução e sua resposta ao estresse ambiental.
Para essa pesquisa, os cientistas utilizaram células de pólen da Arabidopsis thaliana, uma pequena planta herbácea com flor nativa da Europa e da Ásia, habitualmente utilizada nos laboratórios como modelo para estudos de biologia de plantas.
A equipe descobriu que os receptores de glutamato, que são proteínas, “têm um papel essencial na comunicação das células das plantas”, ao regularem os “níveis de íons de cálcio que existem dentro da célula”, refere o Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) em comunicado.
Os íons de cálcio são fundamentais para “a resposta ao estresse ambiental, como o provocado pelas mudanças climáticas, e para a imunidade a infecções causadas por insetos ou fungos”.
Os receptores de glutamato também existem nos animais, mas desempenham uma função diferente daqueles das plantas, apesar de, em ambos os organismos, essas proteínas deixarem entrar cálcio para dentro das células e, assim, permitirem “transmitir informação entre elas”, explica José Feijó à Lusa.
Nos animais, os receptores interferem apenas na comunicação entre neurônios, “ajudando na transmissão dos sinais nervosos de um neurônio para outro”.
Já nas plantas, que não têm sistema nervoso, os receptores, sinalizados em vários compartimentos da célula e cuja atividade é regulada por outras proteínas, têm um papel ao nível da reprodução, do crescimento e da imunidade contra doenças e pragas, além de permitir a propagação de estímulos elétricos.
“Quase todas as plantas têm mais tipos de receptores de glutamato que todo o nosso sistema nervoso, e esse fato sugere que sejam importantes para muitas funções”, explica o cientista.
O resultado permite compreender melhor as respostas imunológicas das plantas, permitindo desenvolver “melhores estratégias de defender as plantas de infecções e de adaptação às mudanças climáticas“.
O estudo foi coordenado por José Feijó, cientista da universidade norte-americana de Maryland, que começou a pesquisa quando ainda trabalhava no Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), em Portugal.
Ciberia, Lusa // ZAP