Cientistas sintetizaram tintas e cosméticos com cerca de 3.500 anos, uma descoberta feita graças ao fato de a equipe ter desenvolvido uma nova técnica de datação de compostos carbonatados inorgânicos.
Os carbonatos de chumbo foram alguns dos ingredientes mais importantes tanto em tintas antigas como em cosméticos. No entanto, enquanto que a datação por carbono é comumente utilizada para determinar a idade de itens históricos feitos de vegetais ou animais, a análise de materiais inorgânicos é diferente e menos direta.
O carbono-14 radioativo é continuamente produzido na atmosfera e incorporado nas plantas durante a fotossíntese. Quando um organismo morre, deixa de absorver carbono fazendo com que a proporção de carbono-14 diminua à medida que o elemento se decompõe gradualmente. É esse acontecimento que dá aos cientistas uma forma de identificar a idade dos restos de plantas e animais.
Agora, uma equipe de cientistas liderada por Lucile Beck, da Universidade de Paris-Saclay, na França, mostrou que durante a fabricação de carbonatos de chumbo, o carbono-14 que contém dióxido de carbono atmosférico é incorporado no material.
Isso fez com que a equipe conseguisse distinguir carbonatos sintéticos de chumbo daqueles com origem natural, explica o site ChemistryWorld.
Assim, a equipe de especialistas examinou em detalhe amostras de cosméticos antigos mantidos no Museu do Louvre, em Paris, incluindo um pó encontrado em um túmulo em Erétria, na Grécia, e outros pigmentos encontrados em câmaras funerárias egípcias construídas durante os reinados de Amenhotep III e Tutancâmon.
Os cientistas utilizaram a espectrometria de massa para analisar os materiais e, assim, comparar as idades às datas conhecidas de outros objetos encontrados nos mesmos lugares, como moedas ou inscrições.
As idades dos carbonatos de chumbo que coincidiam com o período do túmulo em que foram descobertos fez com que a equipe concluísse que esses compostos deveriam ter sido criados artificialmente, partindo do princípio de que os carbonatos mais antigos do que os túmulos devem ter sido minerais criados através de um processo natural.
Dessa forma, a equipe mostrou que enquanto os antigos egípcios extraíam cerussite (PbCO3) de minas locais, eram capazes de produzir o próprio fosgenite (Pb2Cl2CO3). Mil anos depois, nota o artigo científico publicado recentemente na Nature, os gregos começaram a produzir cerussite sintético, que pertence ao grupo dos carbonatos de chumbo.
A técnica usada pela equipe de Beck poderia ajudar a autenticar obras de arte antigas, isto porque o branco do chumbo – uma mistura de cerussite e hidrocerusite (Pb3(CO3)2(OH)2) – era o pigmento mais usado no mundo da arte antiga.
Ciberia // ZAP