Um grupo de pesquisadores descobriu que os períodos de seca “extrema”, que chegaram mesmo a registrar uma queda de 70% nas chuvas, foram um dos motivos que levou ao colapso da civilização maia.
Os Maias dominavam a arquitetura e a matemática, conheciam a astronomia e tinha um sistema de escrita tão eficiente como os que existiam na época, na Europa. Esta civilização foi uma das mais proeminentes culturas pré-colombianas, deixando marcas que mostram seu alto grau de desenvolvimento.
No entanto, quando os europeus chegaram ao continente americano, poucos vestígios restavam. O mistério sobre a lendária civilização ganha agora mais uma explicação com esse novo estudo, publicado nesta quinta-feira (2) na revista Science.
Cientistas da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e da Universidade da Flórida, nos EUA, desenvolveram um método para medir os diferentes isótopos de água presos na gipsita – um mineral que se forma em épocas de seca, quando o nível médio das águas cai – no lago Chichancanab, na península de Iucatã, no México.
“Descobrimos que, na época, a precipitação média anual diminuiu cerca de 41 a 54% em relação aos dias de hoje. Períodos com até 70% de redução da precipitação podem ter ocorrido em períodos de tempo mais curtos dentro das secas”, afirma o geoquímico Nicholas Evans, do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Cambridge, em declarações à BBC.
Segundo o pesquisador, a pesquisa demonstrou que a umidade relativa diminuiu cerca de 2 a 7% nesse período. “Nossos resultados podem agora ser usados para prever melhor como estas condições de seca podem ter afetado a agricultura – incluindo os rendimentos das culturas básicas dos maias, como o milho.”
Evans aponta que esse novo estudo representa um “avanço substancial”, já que oferece estimativas estatisticamente sólidas sobre os níveis de precipitação e umidade.
Declínio da civilização maia
A civilização maia se divide em quatro períodos principais: o pós-clássico (2000 a.C a 250 a.C), o clássico (250 a.C a 800 d.C), o fim do clássico (800 d.C a 1000 d.C) e o pós-clássico (100 d.C a 1539 d.C).
O auge da civilização ocorreu entre os anos 250 e 800, durante o período clássico. Em 750, acreditam os historiadores, a população teria chegado aos 13 milhões de habitantes. A partir daí, aconteceu um rápido e misterioso declínio.
Existem diversas teorias sobre o que levou ao colapso da civilização, desde surtos de doenças a problemas decorrentes da dependência da monocultura, passando por guerras internas, invasões de povos estrangeiros e mudanças climáticas.
Contudo, nos últimos anos, a questão climática tem ganhado força – sobretudo depois dos cientistas analisarem vestígios deixados no solo e no fundos dos lagos mexicanos.
“Outros estudos, realizados em toda a região das planícies maias, também fornecem pistas de sincronicidade da seca, registrando apenas pequenas variações temporais na região. Não podemos afirmar se essa seca foi sentida em outras áreas do planeta”, ressalta Evans.
Essa hipótese já tinha sido apresentada pelo menos desde 1994, quando o arqueólogo Richardson Benedict Gill publicou o livro The Great Maya Droughts. Na obra, o cientista reitera que a escassez da água teria sido o principal fator no colapso do povo maia.
Outros estudos publicados posteriormente vão de encontro à hipótese que associa a seca ao fim da civilização.
“Existem várias teorias, mas os dados não sustentam qualquer causa em particular. Possíveis teorias incluem o desmatamento, mudanças na frequência dos ciclones tropicais, mudanças na frequência dos eventos El Niño e mudanças na posição da Zona de Convergência Intertropical”, explica Evans.
O pesquisador não acredita que um fenômeno semelhante à seca extrema que atingiu os maias possa acontecer no futuro – mesmo tendo em conta o aquecimento global e as mudanças climáticas.
“Não há ligação direta entre a seca estudada e os futuros períodos de seca, já que a globalização significa que hoje em dia os seres humanos são capazes de movimentar os recursos hídricos e alimentares em todo o planeta – ao contrário dos maias, que dependiam das chuvas e viviam como uma sociedade agrícola local”, concluiu o pesquisador.