O peixe macho da espécie Rhabdoblennius nitidus come seus filhotes porque a presença dos ovos faz com que seus níveis de androgênio caiam vertiginosamente, o que o impede de acasalar.
O canibalismo filial – no qual os espécimes adultos comem seus filhotes – não é um fenômeno assim tão raro no reino animal: ursos, felinos, primatas, canídeos, roedores, insetos, peixes, anfíbios, repteis e pássaros são alguns dos exemplos que fazem isso.
Agora, de acordo com o IFLScience, há mais um nome para acrescentar à lista: o peixe macho da espécie Rhabdoblennius nitidus, geralmente encontrado nos recifes de corais no Oceano Pacífico ocidental, no continente asiático.
Os casos de canibalismo filial variam um pouco entre as espécies, mas, geralmente, o fator determinante é o mesmo: gestão de recursos. Todos os filhotes precisam ser alimentados, especialmente os que não são tão saudáveis. Se saírem da equação, deixam de ser um problema, digamos assim.
Assim como é explicado em um artigo publicado na semana passada na Current Biology, a principal hipótese de o canibalismo filial acontecer é conhecida por canibalismo baseado em energia – “energy-based (EB) cannibalism” em inglês – que explica: os benefícios nutricionais de comer os filhotes superam os de marcar o chamado “pool genético”.
Para muitos casos isso é verdade, mas foram registradas exceções em alguns peixes. Os pesquisadores da Universidade de Nagasaki notaram que, em algumas espécies, o macho que fica responsável por tomar conta dos ovos enquanto eles se desenvolvem decide comê-los quando o número total é pequeno e, assim, a reprodução recomeça.
Embora isso possa se encaixar na hipótese do canibalismo baseado em energia, os cientistas notaram que é um fenômeno “intrigante”, já que o macho ainda pode cuidar dos ovos enquanto procura outras fêmeas.
No caso do Rhabdoblennius nitidus, os pesquisadores suspeitaram que o número de ovos controlava algo relacionado com o ciclo de acasalamento que ainda não havia sido observado de uma forma adequada.
Para tentar descobrir, a equipe deixou os peixes fazerem seu ritual de acasalamento, mas controlou o número de ovos que estavam presentes após a cópula.
De acordo com as conclusões da pesquisa, está tudo ligado com os níveis de andrógenos do macho, um grupo de hormônios ligados ao crescimento e desenvolvimento do sistema reprodutor.
A presença dos ovos faz com que seus níveis de androgênio caiam vertiginosamente, o que os impede de acasalar. Nenhum ovo equivale a mais níveis de andrógenos, sejam eles comidos pelo macho ou todos tenham nascido.
Desta forma, a ideia é que esses machos comem pequenos números de ovos não pelo fator nutritivo, mas para que seus níveis de andrógenos aumentem e possam acasalar novamente, podendo produzir uma ninhada maior.
A explicação é corroborada pelo fato de terem comido os ovos, independente dos seus níveis de fome, e de até terem cuspido alguns deles depois de já os terem mastigado bem. Por isso, neste caso não se trata de canibalismo, mas sim de infanticídio ou, mais tecnicamente, “embriocídio”.
Ciberia // ZAP