Os três enteados do presidente venezuelano Nicólas Maduro são investigados nos EUA por suspeitas de participação em um esquema que desviou até 1,2 bilhão de dólares da empresa estatal de petróleo PDVSA.
De acordo com documentos do Departamento de Justiça dos EUA, o esquema em questão utilizava o mercado negro de câmbio de moeda, a empresa estatal e um banco suíço. As investigações ganharam força nesta semana depois de um banqueiro alemão ter fechado um acordo de colaboração com as autoridades americanas.
O banqueiro, identificado como Matthias Krull, foi preso na Flórida em julho. Krull trabalhava para a filial do Panamá do banco suíço Julius Baer e revelou que tinha como clientes três enteados de Maduro, Yoswal, Yosser e Walter Flores, filhos da primeira-dama venezuelana Cilia Flores.
De acordo com as investigações, o esquema recorria às duas taxas de câmbio que vigoraram até a semana passada. Os suspeitos trocavam dólares em um esquema paralelo, no qual a avaliação da moeda era muito mais alta. Depois – através do pagamento de propina ou com a participação de membros do governo –, os envolvidos compravam novamente dólares usando a avaliação oficial, que tinha valores mais baixos.
O esquema permitiu, em 2014, que um dos participantes usasse 10 milhões de dólares para comprar 600 milhões de bolívares no mercado paralelo. Na época, a avaliação não oficial era de 1 dólar para 60 bolívares.
Depois, e já com acesso à avaliação oficial – que era de apenas 1 dólar para 6 bolívares – o suspeito conseguiu transformar 10 milhões em 100 milhões de dólares.
De acordo com os investigadores americanos, o esquema usava os cofres da PDVSA, que é a principal fonte para obter dólares na Venezuela e que acabava por assumir o prejuízo nas operações fraudulentas de troca de moeda.
Los Chamos
Nos documentos em investigação, os enteados de Maduro não são identificados diretamente, mas sua participação no esquema foi confirmada pelos investigadores à agência de notícias Associated Press.
De acordo com as revelações do banqueiro, os enteados de Maduro são apelidados de Los Chamos, expressão coloquial que significa “as crianças”. De acordo com a investigação, os três arrecadaram até 184 milhões de dólares com o esquema.
O esquema conta ainda com outros participantes, que incluem funcionários do governo e membros da elite. No final de 2014, o esquema já tinha desviado 600 milhões de dólares. Em maio de 2015, o valor já tinha duplicado para 1,2 bilhão.
O banqueiro alemão contou que foi procurado em 2016 por um dos participantes do esquema, que procurava ajuda para “lavar” os 1,2 bilhão de dólares. Krull começou então a fazer os movimentos para ocultar o valor, que foi usado para comprar propriedades na Flórida e enviado para contas no exterior.
Essa não é a primeira vez que a família de Maduro é envolvida em investigações nos EUA. Em 2017, dois sobrinhos da primeira-dama Flores foram condenados a 18 anos de prisão pela Justiça americana por tráfico de cocaína.
Ciberia // Deutsche Welle / ZAP