O projeto que nasceu há dez anos em uma pequena cidade da Califórnia, nos Estados Unidos, já chegou à capital do Estado, Sacramento.
Em 2009, as autoridades de Richmond, na Califórnia, concluíram que 70% dos crimes com arma de fogo que ocorriam na cidade, então com pouco mais de 100 mil habitantes, eram obra de um pequeno grupo de delinquentes. Nessa altura, Richmond estava entre as 12 cidades mais violentas dos Estados Unidos.
“Mesmo com a presença de mais forças de segurança vimos que a violência não diminuía. Como não estávamos conseguindo tirá-los das ruas, pensamos em dar-lhes uma alternativa que os motivasse e os fizesse mudar de comportamento”, explicou DeVone Boggan, diretor executivo do Advance Peace.
O programa conta com uma seleção de mentores, geralmente indivíduos que já cumpriram pena de prisão e que acompanham os jovens vulneráveis e os ajudam a desenvolver um “plano de vida”.
“Os mentores, que vemos como agentes de mudança, vêm dos mesmos bairros, conhecem essa vida”, continua Boggan. “A intervenção consiste em desenvolver relações com esses meninos vulneráveis, relações fortes, de confiança, para poder avançar com as outras etapas do programa”.
Uma dessas etapas tem causado polêmica, sobretudo agora que chegou a Sacramento: o pagamento de um valor mensal aos jovens.
A capital da Califórnia é uma das cidades onde a violência urbana mais aumentou nos últimos anos, com as gangues sendo apontadas como responsáveis por mais de um quarto dos homicídios cometidos anualmente na cidade.
“Todos concordamos que esses indivíduos provavelmente serão alvejados ou dispararão contra alguém nos próximos seis meses. Isso terá um custo para nós. Se os prendemos, teremos gastos altos. Há um custo de 400 mil dólares por tiroteio ou 1 milhão por homicídio”, disse Khaalid Muttaqi, diretor do grupo de Prevenção e Intervenção em Gangues da Prefeitura de Sacramento.
“Mas os participantes do programa custam, por 18 meses, 30 mil dólares no máximo. Mesmo que não se não concorde com o programa, faz sentido economicamente”, afirma.
Também Boggan considera que as críticas são feitas por falta de informação: “Concentram-se em um só elemento, o incentivo econômico, quando há um conjunto de coisas que o programa faz, como o contato diário com o jovem, a atenção constante, o desenvolvimento de um plano de ação que inclui estabelecer objetivos de educação, emprego, habitação, saúde ou viagens para que conheça outras realidades.”
Khaalid Muttaqi enumera os fatores por trás do ingresso desses jovens no mundo do crime: vingança entre membros de gangues e consumo e venda de drogas, mas também questões pessoais, estado mental, traumas. “São coisas em que não costumamos pensar”, acrescenta.
“Vemos essas pessoas que cometem crimes como más. Muitos deles foram também vítimas de violência. Pode ter sido abuso infantil, podem ter visto muita violência na infância, e essa pode ser a raiz do problema, mas não se fala disso”, defende. “Debaixo da tatuagem, do cabelo, da forma de falar, quase todos querem ter uma vida melhor.”
Isso levou os responsáveis de Sacramento a decidirem trabalhar com os jovens em maior risco de recorrerem à violência, antes de apertarem o gatilho ou se tornarem vítimas.
Ciberia // ZAP