Em um documento de 200 páginas entregue à Justiça no dia 24 de setembro, um segundo painel de especialistas responsabiliza em parte a Airbus e a Air France pela queda do voo Rio-Paris AF447, que causou a morte de 228 pessoas em 1° de junho de 2009.
As conclusões finais do último relatório forense sobre o acidente foram publicadas pelo jornal Le Parisien na noite desta quinta-feira (4) e mais uma vez apontam os erros da tripulação, incluindo “ações inadequadas na direção manual” em face à “perda de controle ” da aeronave que levariam à queda do A330.
Eles colocaram em segundo plano as responsabilidades da empresa Air France e especialmente a fabricante Airbus, ambos indiciados por “homicídio culposo” neste caso instruído em Paris há quase dez anos.
O cenário geral do acidente é agora conhecido: o elemento desencadeador do desastre foi a formação de gelo das sondas de Pitot do A330, que resultaram em indicações errôneas de velocidade e levaram, em cascata, à queda da aeronave.
Dentro da conjunção de fracassos técnicos e humanos, este segundo painel de especialistas acredita que “a causa direta do acidente foi a perda de controle da trajetória de voo da aeronave pela tripulação”.
“Essa perda de controle resultou de ações inadequadas dos dois co-pilotos no cockpit – o capitão estava ausente e não havia deixado instruções, enquanto o avião atravessava o Atlântico”, escrevem os especialistas.
Nas “causas indiretas”, os especialistas listam inúmeras deficiências passíveis de responsabilidade da empresa Air France, em termos de treinamento e informação.
Eles observam, em particular, “a falta de treinamento da tripulação em pilotagem em alta altitude” e “insuficiente processamento operacional pela empresa de incidentes de indicações de velocidade incorretas” para suas tripulações.
Quanto à Airbus, o único item citado é “a ambiguidade do procedimento Stall” na documentação do construtor – uma classificação “validada pela Direcção-Geral de Aviação Civil”, sublinha o relatório.
As conclusões que tendem a diminuir responsabilidades da Airbus causam indignação entre as famílias das vítimas.
“A certificação de um aparelho pela DGAC confere o direito a erros que levam à morte de centenas de pessoas!”, lamentou Sébastien Busy, advogado da Associação Entreajuda e Solidariedade AF447.
“As reações da tripulação foram adaptadas de tal forma que parece como se tudo estivesse funcionado bem!”, diz Danièle Lamy, presidente da Entreajuda e Solidariedade AF447, que perdeu um filho no acidente.
Lamy recorda que uma primeira perícia judicial, em 2012, não chegou às mesmas conclusões, e exige que as partes civis questionem os especialistas do segundo painel. “Esses dois relatórios contraditórios tornam necessário um debate judicial público. É preciso um processo!”, insiste Danièle Lamy.
// RFI