Se você pensa que gostar ou não de filmes de terror se trata de uma preferência pessoal, está enganado. Afinal, tem tudo a ver com algum tipo de necessidade psicológica.
Quando você escolhe um filme de terror para ocupar seu tempo, escolhe também estar perante uma situação de medo e perigo de forma voluntária – ainda que o perigo não seja real. Mas por que gostamos tanto de ver filmes de terror? “Ironicamente, o medo reduz o estresse e a ansiedade.”
Margee Kerr, cientista norte-americana conhecida como a “socióloga do medo”, explicou ao Público o que nos faz gostar de situações assustadoras.
“Quando estamos nesses momentos intensos, estamos presos ao momento, à realidade. Não se pensa no futuro, pensa-se no aqui e agora. Não ficamos emaranhados nos nossos pensamentos, ruminando ou pensando no que temos que fazer a seguir”, disse.
No início de outubro, a pesquisador publicou um estudo, no American Psychological Association, sobre esse tema. Atividades que nos levam ao limite, explica, fazem com que, no final, “sintamos que conquistamos algo, como se tivéssemos ultrapassado uma adversidade e sobrevivido, ainda que no fundo saibamos que não é verdade”.
Kerr e sua equipe analisaram os registros de atividade cerebral de alguns participantes da casa assombrada norte-americana e chegaram à conclusão de que o medo ajuda a “desligar” partes do cérebro, fazendo com que os participantes se sintam melhores depois da experiência.
Os pesquisadores analisaram 262 adultos que entraram na ScareHouse, uma casa assombrada com mais de uma centena de atores que tornam a experiência verdadeiramente assustadora.
Os participantes podem ser raptados, fechados em um caixão e até sujeitos a choques elétricos. O jornal informa ainda que podem, também, ser esfaqueados (tudo fingindo).
Os participantes foram entrevistados antes e depois dessa experiência aterrorizadora. Os cientistas concluíram que a disposição daqueles que participaram melhorou, sobretudo para os que se sentiam “cansados, aborrecidos ou estressados” antes de entrar.
De acordo com o estudo, 94% dos participantes disseram ter gostado da experiência e a maior parte deixou de se sentir “cansado” ou “ansioso”. No fundo, quanto mais assustados ficavam, melhor se sentiam no final.
Ainda assim, a socióloga frisa que é muito importante que essas experiências sejam completamente voluntárias para surtirem esse tipo de efeito positivo.
Por outro lado, no extremo oposto, Margee Kerr refere que a aversão ao terror “tem muito a ver com experiências pessoais, mas a parte genética também entra na equação”.
“Há diferenças na forma como as pessoas respondem ao estresse e, se não tiverem tido a oportunidade de sentir esse tipo de medo de uma forma segura, podem não saber que há benefícios”, explica a pesquisadora.
É nesse sentido que a cientista trabalha, para que seu estudo possa ajudar quem lide com casos de estresse e experiências traumáticas. “Estamos vendo se conseguimos fazer com que as pessoas melhorem seus estados de ansiedade, permitir que sintam medo de uma forma mais fácil e dar-lhes oportunidade de praticá-lo de uma forma segura.”
“Mesmo que não se goste de casas assombradas ou de filmes de terror, manter um espírito aventureiro é uma coisa boa que nos ajuda a desafiarmos nós mesmos de uma forma segura e criativa”, afirma, por fim, a cientista ao Público.
Ciberia // ZAP