Código neuronal da ansiedade pode ter sido finalmente descoberto

Os cientistas podem ter descoberto a assinatura neuronal da ansiedade e da tristeza. De acordo com um novo estudo, esses sentimentos podem estar associados à “conversa” entre duas áreas do cérebro. 

Para a descoberta, os cientistas rastrearam as conversas elétricas que ocorrem no cérebro, isto é, ouviram e analisaram os sinais que essas regiões cerebrais compartilham mutuamente.

Quando uma pessoa se sentia mais em baixa, descobriram os cientistas, a comunicação entre as células neuronais de duas áreas específicas aumentava. Segundo a publicação, divulgada na revista Cell, essas áreas cerebrais estão diretamente envolvidas na memória e na emoção.

Apesar de se verificar um aumento na comunicação celular dessas duas áreas, não é ainda certo se esse acréscimo é a causa ou o efeito dos sentimentos em si, como o mau humor, notaram os cientistas. No entanto, a pesquisa permitiu definir qual é a área do cérebro onde se desenrola o fenômeno.

De forma bem mais clara, a pesquisa evidenciou que a ansiedade, a depressão e o humor tem manifestações físicas no cérebro – e isso é bom para os pacientes. “Para muitos pacientes é muito importante saberem se, quando estão deprimidos, isso se deve a algo mensurável e concreto no cérebro”, disse o coautor do estudo Vikaas Sohal, psiquiatra da Universidade da Califórnia, em São Francisco.

“Para alguns pacientes, [a descoberta] pode fornecer uma validação importante e remover o estigma, impulsionando-os a procurar um tratamento adequado”, sustentou.

Procedimento experimental

Para obter os resultados, a equipe recorreu a uma técnica apelidada de  eletroencefalografia intracraniana (EEG) que, como o nome indica, implica implantar eletrodos ou fios elétricos dentro do crânio e do próprio cérebro. Depois da implantação, os cientistas conseguem registrar a atividade elétrica das células cerebrais.

Estudos realizados anteriormente sobre a atividade cerebral e as emoções recorreram, na maioria, a ressonâncias magnéticas funcionais (fMRI) – imagens que medem as mudanças no fluxo sanguíneo no cérebro. Contudo, esse era um método de medição de “forma indireta”, que não é capaz de “medir as mudanças na atividade cerebral que ocorrem muito rapidamente”, exemplificou Sohal.

Em contrapartida, implantar eletrodos no cérebro de um paciente é um procedimento mais invasivo. Tendo isto em conta, os médicos selecionaram para o estudo pacientes que estavam à espera de cirurgia tendo, por isso, eletrodos já implantados – neste caso, foram acompanhados 21 pacientes com epilepsia cujos eletrodos foram utilizados para mapear as zonas do cérebro que causavam convulsões.

Os cientistas acompanharam a atividade cerebral dos pacientes entre sete e dez dias, registrando o humor através de “diários de humor”.

A pesquisa descobriu que em 13 dos 21 pacientes o mau humor estava associado a um aumento entre a comunicação da amígdala(região cerebral associada ao processamento de emoções) com o hipocampo (região envolvida na memória).

“A ideia de que as memórias de experiências e emoções negativas estão intimamente relacionadas é uma pressuposto antigo da psiquiatria e está no cerne da terapia cognitivo-comportamental”. Agora, as novas descobertas “podem representar uma base biológica para essa relação”, concluiu o cientista.

Como nota a Medical News Today, esta é a primeira vez que um estudo científico analisa padrões cerebrais profundos ao longo de vários dias. Mais do que isso, a pesquisa registra as medições neuronais em situações diárias, podendo se revelar importante para combater a condição médica e o estigma que está associado a ela.

Ciberia // ZAP

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