Por trás da assinatura “George Walker” nas cartas enviadas a um menino filipino, ninguém desconfiou que estava o 41º presidente dos Estados Unidos, George H. W. Bush.
Após a morte do republicano, em novembro, uma instituição de caridade revelou que George Bush se correspondeu secretamente por dez anos com uma criança a quem ajudava financeiramente – contribuindo nos custos da educação e alimentação.
O menino, Timothy, tinha sete anos quando começou a receber a ajuda e só descobriu a identidade de seu patrocinador aos 17, quando deixou o programa conduzido pela Compassion International. Bush morreu aos 94 anos.
A organização revelou o conteúdo de algumas das cartas para o jornal americano Colorado Springs Gazette e mais tarde para a CNN. “Querido Timothy, quero ser seu novo amigo”, disse Bush em sua primeira carta em 2002, usando o pseudônimo – uma combinação de seus primeiro e terceiro nomes.
“Sou um homem velho, de 77 anos de idade, mas eu amo crianças; e, embora não tenhamos nos conhecido, eu já te amo. Moro no Texas. Vou te escrever de tempos em tempos. Boa sorte”, escreveu.
“Você já ouviu falar da Casa Branca?”
A Compassion International é uma instituição humanitária e cristã que ajuda crianças que vivem na pobreza. O ex-presidente soube pela primeira vez do programa de patrocínio infantil em 2001, durante um concerto de Natal em Washington, capital dos EUA.
Acredita-se que sua identidade tenha sido mantida em segredo por preocupações de que Timothy ficasse sob os holofotes se descobrissem a real identidade de seu mentor.
Mas isso não impediu que Bush deixasse pistas nas cartas, segundo o ex-presidente da entidade, Wess Stafford, que leu todas as correspondências. “Ele era conhecido por gostar de fazer truques”, disse Stafford à BBC.
“Timothy, você já ouviu falar na Casa Branca? É onde o presidente dos EUA vive. Tenho que ir à Casa Branca na época do Natal. Aqui está um pequeno livreto que peguei lá”, o patrocinador escreveu em uma de suas cartas.
Até mesmo a família de Bush só ficou sabendo destas trocas secretas anos depois, segundo Stafford. O representante da identidade conheceu o filho de Bush, George – também ex-presidente dos Estados Unidos -, e sua esposa Laura em um jantar em 2008 e contou sobre a ajuda. “George [W. Bush] parou por um momento e disse: ‘Sim, isso soa como meu pai. Laura chorou”, lembra Stafford.
Além das cartas, o ex-presidente também enviou presentes, incluindo materiais para produção artística.
Bush também recebeu mensagens de volta. “Obrigado por não me esquecer. Você é tão legal e bom”, disse Timothy em uma carta.
Quando o garoto ficou sabendo quem era seu mentor, disse que se tratava de uma informação capaz de mudar a vida. No entanto, a caridade não conseguiu falar com o filipino desde então.
“Amo que um dos homens mais poderosos do mundo, sem qualquer alarde, tenha procurado uma das crianças mais pobres do mundo. Tenho a sensação de que ele fez muitas coisas boas das quais não sabemos e muitas coisas sobre as quais nunca saberemos”, conclui Stafford.
Ciberia // BBC