Fabricar um pistola de plástico que funcione de verdade com uma impressora 3D? Parece brincadeira, mas o site FranceInfo provou ser coisa séria: é possível fabricar e usar uma arma impressa em três dimensões na França. A questão é se isso é legal ou não.
“O objeto parece um brinquedo de criança, ou até mesmo um acessório de um filme de ficção científica. No entanto, a arma que a FranceInfo havia fabricado com uma impressora 3D foi capaz de disparar uma bala de verdade e de acertar um alvo”, relata a matéria, que vem acompanhada de um vídeo mostrando cada etapa desta fabricação.
O primeiro passo foi achar um modelo para imprimir. A pesquisa, na internet, durou poucos minutos. “Nós escolhemos produzir um Liberator, a primeira arma do tipo, projetada por Cody Wilson, que foi criada em 2013. A nossa escolha recaiu sobre a pistola composta de 15 peças, porque é fácil de montar para novatos”.
Depois, teriam que encontrar uma maneira de imprimir a arma. A compra de uma impressora 3D se mostrou extremamente cara, e os repórteres então decidiram imprimir com profissionais, já que estes serviços são numerosos em Paris.
“Entramos em contato com cerca de 30 profissionais, por e-mail ou em plataformas especializadas, assumindo um nome falso”, contam os jornalistas que participaram deste experimento.
Serviço não autorizado
Depois que os arquivos da Liberator foram transmitido on-line, muitos desses profissionais de gráficas recusaram o pedido de impressão: “Olá, dado o arquivo recebido, não vou imprimir este item porque parece uma arma”, escreveu uma gráfica.
Outra respondeu: “De acordo com a lei francesa, é proibido possuir uma arma de fogo. Nossa empresa reserva-se o direito de recusar um pedido contrário à ordem pública ou à moral”.
Ainda assim, os jornalistas conseguiram dois profissionais que toparam o serviço. Um entregou as peças que compõem a pistola em mãos, mas disse não ter percebido o que continha no arquivo (as peças vieram separadas). O outro entregou pelo correio.
Aos jornalistas, coube juntar as peças em plástico e montar as pistolas, que, para a sua surpresa, funcionaram de verdade, quando foram testadas em um ambiente seguro. Embora as 15 peças em 3D que compõem a pistola sejam de plástico, foi preciso usar parafusos em metal para a montagem.
Seria, portanto, muito arriscado passar por um aeroporto com uma arma impressa em 3D sem acionar um alarme ou identificação por raios X. Além disso, a munição necessária para um tiro seria rapidamente detectada. Porque, se a arma parece de brinquedo, a munição é bem real.
Cada arma pode dar apenas um tiro e depois é inutilizada. Mas este tiro pode ferir e até matar. E existe o risco de a arma disparar acidentalmente na mão de quem a porta.
Brechas na lei
A lei francesa não permite a compra nem o porte de armas, mas o vídeo que acompanha a reportagem mostra entrevistas com profissionais do direito contando que, neste caso, há brechas na lei, porque as armas foram fabricadas “manualmente” e não possuem número de série nem podem ser rastreadas.
O Ministério do Interior francês (que se ocupa da Segurança), no entanto, mostrou que não é bem assim: eles estão atentos a esta possibilidade, tanto que um dos jornalistas que participou do experimento foi rastreado e teve de prestar depoimento à Polícia.
“Nosso objetivo não era criar um guia para os entusiastas de armas de fogo impressas em 3D, mas verificar se havia motivo para preocupação com a existência dessas novas armas de um ponto de vista técnico e legal”, dizem os jornalistas da FranceInfo.
Por ora, na França, nenhuma arma impressa em 3D deu origem a consequências legais, ao contrário do Japão ou dos Estados Unidos. No Reino Unido, uma lei que proíbe a impressão de armas em 3D entrou em vigor em 2013. Na França há apenas um projeto de lei, ainda não votado, que dispõe sobre esta interdição.
// RFI