O jornal Le Monde desta sexta-feira (21) publica uma matéria sobre a mobilização na França de associações, intelectuais e artistas contra o atual governo brasileiro. “Paris, capital anti-Bolsonaro” é a manchete do texto assinado pelo jornalista Nicolas Bourcier.
Na matéria, Le Monde lembra que a mobilização em prol da democracia brasileira teve início em 2016, na primeira manifestação contra a destituição da presidente Dilma Rousseff, diante da embaixada do Brasil em Paris.
Entrevistada pelo jornal, a historiadora e professora da Universidade de Versalhes, Anaïs Flechet, lembra que as relações entre a França e o Brasil são antigas, com picos durante os anos 1960 e 1970, quando a França acolheu exilados brasileiros, ou durante os anos Lula, quando as relações entre Paris e Brasília se estreitaram.
Mas, a partir de 2016, diz a especialista em estudos brasileiros, “sentimos que pessoas que eram pouco politizadas tomaram, subitamente, consciência que o país entrava em uma fase perigosa e que era preciso agir”.
O movimento teve sequência com a criação do coletivo Solidariedade França Brasil e com o Movimento Democrático do 18 de Março, o MD18, criado por intelectuais, professores e artistas. Le Monde também lembra a atuação da Arbre – Associação pela Pesquisa sobre o Brasil na Europa – e a Autres Brésils, associação dinâmica e influente, criada em 2003.
A condenação e prisão de Lula, o assassinato da vereadora Marielle Franco, o incêndio do Museu Nacional do Rio e a ascensão de Jair Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto, em 2018, intensificaram os movimentos e os debates na França sobre o futuro da democracia brasileira.
Desde então, ressalta o diário, ciclos de debates são realizados na Casa da América Latina e no Instituto de Altos Estudos da América Latina em Paris. Tribunas foram publicadas pelos jornais Le Monde, Libération e L’Humanité. Um manifesto contra Bolsonaro chegou a ser assinado por personalidades políticas de vários partidos, “com exceção da Reunião Nacional”, legenda da extrema direita, ressalta a matéria.
Depois da eleição de Bolsonaro, uma plataforma de troca de ideias e informações também foi lançada na França, a Rede Europeia pela Democracia (Red) do Brasil, ligada ao site americano US Network for Democracy in Brazil, criado em Nova York pelo especialista em ditadura militar brasileira, James Greene. Em, paralelo, uma iniciativa da Red, ONGs e associações foi aprovada pela prefeitura de Paris para criar um jardim público, no 10° distrito da capital que levará o nome de Marielle Franco.
Leitura de cartas para Lula
Le Monde também fala da grande expectativa para o próximo 25 de junho, quando juízes do Supremo devem analisar um novo recurso da defesa de Lula, que pede sua libertação. No mesmo dia, cerca de 50 artistas e intelectuais brasileiros e franceses lerão, no Teatro Monfort, em Paris, cartas escritas ao ex-presidente desde sua prisão. Com presença do cantor Chico Buarque, “a noite promete e o evento já está lotado”, conclui Le Monde.
// RFI BR