O governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanhayu, anunciou nesta quinta-feira (15/08) que vai barrar a entrada no país de duas congressistas americanas, as democratas Ilhan Omar e Rashida Tlaib. O anúncio foi feito pouco depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, encorajar publicamente uma ação israelense nesse sentido.
Pela manhã, o republicano escreveu no Twitter que as deputadas – que são muçulmanas – “odeiam Israel e todo o povo judeu”. “Seria um sinal de grande fraqueza se Israel permitisse que Omar e Tlaib visitassem o país. (…) Elas são uma desgraça.”
Minutos após a publicação dos tuítes, a vice-ministra do Exterior israelense, Tzipi Hotovely, confirmou em entrevista a uma rádio local que o país decidiu não conceder vistos de entrada às deputadas. “Não vamos permitir a entrada de quem nega nosso direito de existir no mundo”, afirmou.
O Presidente dos EUA disse que permitir visita das muçulmanas Rashida Tlaib e Ilhan Omar seria sinal de fraqueza por parte do governo israelense, porque as congressistas “odeiam judeus”. Pouco depois, Israel anuncia veto.
Rashida Tlaib e Ilhan Omar são membros de um quarteto de congressistas progressistas do Partido Democrata que foi apelido de “o esquadrão”, e que vem chamando a atenção por suas posições bem à esquerda da legenda. Em julho, as duas, junto com Alexandria Ocasio-Cortez e Ayanna Pressley, foram alvo de uma série de ataques racistas por parte de Trump.
Tlaib, nascida em Detroit, é descendente de palestinos. Já Omar chegou aos EUA como refugiada ainda quando criança, após sua família fugir de conflitos na Somália. Ela é a primeira mulher negra muçulmana a se eleger para o Congresso americano.
Ocasio-Cortez, nascida em Nova York, é descendente de porto-riquenhos, e Pressley, de Cincinnati, é a primeira afro-americana a ser eleita por Massachusetts. Apenas Omar não nasceu nos EUA, mas é cidadã do país desde os anos 2000.
Em seus ataques anteriores, Trump sugeriu que as democratas deveriam deixar os Estados Unidos. “Essas congressistas e seus comentários estão ajudando a alimentar a ascensão de uma perigosa esquerda militante”, disse o republicano em julho.
“Tenho uma sugestão para as extremistas cheias de ódio que constantemente tentam dividir nosso país. Elas nunca têm nada de bom para dizer […] Sabe o quê? Se não amam [o país], diga a elas para deixá-lo.”
Na ocasião, ele também disse que elas “odeiam Israel com uma paixão sem limites“, em referência a Omar e Tlaib, que já se envolveram em algumas controvérsias relacionadas ao tradicional aliado dos Estados Unidos.
Ao anunciar a decisão de negar os vistos, o gabinete de Netanyahu afirmou que decidiu barrar as deputadas por causa da participação delas no movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções, conhecido pela sigla BDS, uma ação internacional para pressionar Israel a acabar com a ocupação da Cisjordânia, entre outras pautas. Uma lei israelense de 2017 prevê que promotores e apoiadores do BDS podem ser proibidos de entrar no país.
“Como uma democracia vibrante e livre, Israel está aberta a qualquer crítica, com uma exceção. A lei de Israel proíbe a entrada de pessoas que pedem e agem para boicotar Israel, como é o caso de outras democracias que impedem a entrada de pessoas que consideram prejudiciais ao país”, disse Netanyahu em comunicado.
Só que, em julho, o embaixador israelense nos Estados Unidos, Ron Dermer, havia dito que isso não pesaria na concessão dos vistos e que o governo israelense permitiria a entrada das congressistas, levando em conta as relações entre os dois países e o respeito pelo Congresso americano.
No mês passado, Omar apresentou ao Congresso uma resolução copatrocinada por Tlaib para deixar claro que boicotes são um direito constitucionalmente protegido pela liberdade de expressão. A resolução não mencionava especificamente Israel ou os palestinos, mas mencionava antigas sanções e boicotes contra a União Soviética, a África do Sul e a Alemanha nazista.
O itinerário da viagem de Rashida Tlaib e Ilhan Omar incluía uma visita ao complexo do Monte do Templo, área que Israel anexou há mais de 50 anos.
A decisão de banir a entrada das congressistas deve aprofundar as divergências entre os democratas em relação a Israel. Historicamente, o país conta com apoio bipartidário no Congresso americano.
O episódio também ocorre em um momento em que o apoio ao governo de direita de Netanyahu está diminuindo dentro do Partido Democrata. Recentemente, uma pesquisa indicou que 56% dos democratas apoiariam sanções econômicas contra Israel se o país continuar a expandir os assentamentos em território ocupado.
A decisão de barrar as deputadas também já provocou uma reação negativa entre os membros do partido.
“Israel não ajuda a sua posição como uma democracia tolerante ou um aliado inabalável dos EUA ao impedir que membros eleitos do Congresso visitem o país por causa de suas opiniões políticas”, escreveu no Twitter a senadora Elizabeth Warren, que é pré-candidata democrata à presidência.
Israel recebe regularmente delegações do Congresso americano. No início de agosto, 41 democratas e 31 republicanos participaram de uma visita ao país.