Uma equipe de cientistas australianos anunciou nesta sexta-feira (27) que decidiu testar em larga escala uma vacina usada durante décadas contra a tuberculose, a BCG, para comprovar se é capaz de imunizar profissionais da área da saúde ao novo coronavírus.
A BCG será aplicada em quatro mil empregados de hospitais australianos para verificar sua capacidade de reduzir os sintomas da Covid-19, informaram os pesquisadores do Instituto Murdoch em Melbourne.
“Embora originalmente tenha sido desenvolvida contra a tuberculose e ainda seja administrada em mais de 130 milhões de bebês todos os anos, a BCG também aumenta a capacidade imunológica básica do organismo, ajudando-o a responder aos germes com mais força”, explicaram os pesquisadores em um comunicado.
“Esperamos que haja uma redução na frequência e na gravidade dos sintomas da Covid-19 para o pessoal de saúde que for vacinado com a BCG”, declarou o chefe da equipe responsável pelo experimento, Nigel Curtis.
Para que o teste seja realizado rapidamente, a aprovação do governo e das autoridades sanitárias da Austrália foram essenciais. “É uma verdadeira corrida contra o relógio”, comentou.
Resultados em seis meses
As aplicações começarão na próxima semana e os resultados devem ser anunciados daqui a seis meses. Metade dos participantes tomarão a vacina e na outra metade dos cobaias será injetada uma substância placebo. Todos os quatro mil voluntários serão rastreados através de um aplicativo instalado em seus smartphones.
O período do teste coincide com o início do outono no Hemisfério Sul. Segundo os pesquisadores, esse é um momento propício para realizar o experimento porque coincide com a época em que a imunidade das pessoas está mais baixa. Também é o início da estação de gripes e resfriados na Austrália.
“O teste vai permitir comprovar a eficácia desta vacina contra os sintomas da Covid-19 e pode ajudar a salvar vidas de nossos heróicos profissionais da saúde na linha de frente desta batalha”, afirma a diretora do Instituto Murdoch, Kathryn North.
Segundo ela, ativar o sistema imunológico das pessoas contra o coronavírus pode ganhar tempo na maratona mundial de pesquisadores e especialistas para desenvolver uma vacina específica contra a Covid-19.
Outros países realizarão experimentos similares, como Holanda, Alemanha e Reino Unido, em um momento em que a pandemia de coronavírus já deixou cerca 500 mil contaminados e quase 25 mil mortos em todo o mundo.
Embora os Estados Unidos liderem a contagem de número de infectados – com quase 85 mil casos –, a Itália é o país com o maior número de óbitos no mundo: 8.215 mortos e mais de 80.500 contaminados. A Austrália contabiliza 3.180 doentes e 13 óbitos.
O que é a vacina BCG
A vacina BCG é composta pelo bacilo de Calmette-Guérin – por isso foi nomeada de BCG. Ela é utilizada contra as formas graves de tuberculose, como meningite tuberculosa e a tuberculose miliar, que se espalha pelo corpo. Ela é indicada a partir do nascimento até antes de a criança completar 5 anos. A resposta do organismo à vacina pode durar de três a seis meses.
A BCG frequentemente deixa uma cicatriz característica, de até 1 centímetro de diâmetro no local em que foi aplicada – geralmente no braço direito do bebê ou da criança. A substância pode ocasionar diversos efeitos colaterais: úlceras, gânglios ou abscessos na pele e nas axilas e disseminação do bacilo da vacina pelo corpo, causando lesões em diferentes órgãos.
// RFI