Mais de 50 anos depois da criação da música “In My Life”, um dos sucessos dos Beatles, a matemática concluiu quem foi o autor da canção, depois de tanto John Lennon como Paul McCartney reclamarem a autoria.
“In My Life” é uma das músicas do álbum dos Beatles “Rubber Soul”, de 1965, que fala de memórias, mas cuja autoria sempre foi um mistério – precisamente, devido à divergência de memórias de John Lennon e de Paul McCartney que nunca se entenderam quanto ao verdadeiro autor da canção.
Em 1980, Lennon garantiu em entrevista que tinha sido ele o autor da música, atribuindo a McCartney apenas uma parte da autoria da mesma, mas depois da sua morte, McCartney garantiu que tinha sido ele o criador de toda a canção.
O mistério foi finalmente desfeito em um estudo que envolveu o especialista de estatística Mark Glickman e o professor de engenharia Ryan Song da Universidade de Harvard, nos EUA, bem como o professor de matemática Jason Brown, da Dalhousie University, no Canadá.
E não há dúvidas de que foi John Lennon o autor da música, conforme notaram os autores da pesquisa na apresentação que efetuaram na Joint Statistical Meetings, uma conferência realizada no Canadá que é um dos maiores eventos do mundo dedicado à estatística.
O matemático Keith Devlin, da Universidade de Stanford, nos EUA, relata à NPR como o mistério foi desfeito, contando que os pesquisadores criaram “sacos de palavras”, inspirando-se em uma técnica usada “pelos cientistas de computadores que criaram os filtros de spam“.
Esse método permite isolar “um pouco de texto” e contar “as frequências das diferentes palavras”, frisa Devlin, notando que os pesquisadores analisaram desta forma 70 canções dos Beatles, apontando “149 transições muito distintas de notas e de acordes que estão presentes em quase todas as músicas” da banda britânica.
As transições “são únicas de uma pessoa ou de outra”, atesta Devlin. E “quando se fazem as contas, contando os pequenos pedaços que são únicos para as pessoas, a probabilidade de McCartney ter escrito [a canção] é de 0,18 – isto é, essencialmente zero“, frisa o matemático na NPR.
A conclusão é “bastante definitiva” – “Lennon escreveu a música”, frisa Devlin.
“Em situações como essa, é melhor acreditar na matemática porque é muito mais confiável do que as lembranças das pessoas, especialmente dado que colaboraram a escrevê-la nos anos 1960, com um estado mental incrivelmente alterado devido a todas as coisas que andavam ingerindo”, destaca ainda o matemático.
E apesar de Lennon e McCartney terem trabalhado juntos durante tantos anos e de poderem ter assimilado algumas das “manias” do outro, “continuam a ser as mesmas pessoas, e têm suas preferências sem perceberem”, sustenta Devlin.
“O Lennon usava um certo tipo de coisas uma e outra vez. E o McCartney também”, e era essa junção das partes que funcionava nos Beatles, mas ainda assim “eram pequenos pedaços separados“, constata Keith Devlin. “A matemática isola esses pequenos pedaços que são únicos nas duas pessoas”, conclui.
Ciberia // ZAP