Depois de 55 dias de isolamento total em quarentena, a França começou, no último dia 11, a experimentar os primeiros passos de reabertura, com algumas escolas e estabelecimentos comerciais abrindo suas portas mas seguindo ainda restrições e determinações severas – incluindo o uso de máscaras em qualquer lugar público como determinação obrigatória.
Tal medida, no entanto, revela em paradoxo o potencial preconceito contido em outra lei, de 2010 e ainda vigente, que proíbe o uso de burcas e véus para a população islâmica ao dizer que “ninguém pode, no espaço público, usar uma roupa que oculte o rosto”. E agora o que dizer do uso obrigatório das máscaras?
Pois a nova lei das máscaras não libera o uso de burcas e outras vestimentas típicas para mulheres islâmicas ao obrigar que justamente, na prática, o rosto seja coberto – contrariando o que prevê a lei de 2010.
À época o presidente Nicolas Sarkozy afirmou que a legislação defendia a dignidade das mulheres. “Somos uma velha nação reunida em torno de certa ideia de dignidade humana, em particular da dignidade feminina, em torno de certa ideia de vida em comum”, disse Sarkozy. “O véu integral, que oculta totalmente o rosto, atenta contra esses valores, para nós fundamentais”.
Trata-se de debate importante, mas que atenta violentamente contra a liberdade religiosa no país – para muitas mulheres o uso dos véus é, afinal, um compromisso religioso inviolável.
A reabertura parcial da quarentena na França – em isolamento desde 17 de março – permite que pessoas viajem até 90 quilômetros de distância de suas casas e reabre escolas e algumas lojas, mas as aulas não são obrigatórias. Outros estabelecimentos como cafés e cinemas seguem fechados no país, que pelo visto manterá em contradição as duas leis, obrigando corretamente que a população se proteja e proteja os outros através do uso de máscaras, mas impedindo a liberdade de expressão e a liberdade religiosa ao manter vetado o possível uso das vestimentas típicas islâmicas.
// Hypeness