Cientistas já sabem que o campo magnético da Terra não é imóvel. Seus polos se movem com certa frequência e, de acordo com novos estudos, com velocidade maior do que se imaginava. O problema é que, enquanto nos protege da radiação solar, o movimento do campo magnético também pode ameaçar os nossos satélites.
Atualmente, os satélites que ajudam a monitorar as mudanças no campo magnético revelam que as mudanças dos polos são bem moderadas, em torno de um décimo de grau por ano. Mas não sabemos muito sobre o comportamento dos polos magnéticos, já que os estudos sobre o assunto não tem mais do que 400 anos. Parece muita coisa, mas lembre-se, o campo magnético existe há 3,5 bilhões de anos.
Ao longo de todo esse tempo, nosso escudo magnético pode ter apresentado diferentes comportamentos, incluindo variação na velocidade em que os polos se movem. Os polos norte e sul já estiveram em lados opostos no passado e isso pode acontecer de novo, sem que ninguém saiba prever quando exatamente vai acontecer. Não será agora, mas há indícios de que não vai demorar milhares de anos, como se esperava até então.
Para rastrear as variações do campo ao longo do tempo, os cientistas analisam o magnetismo registrado em sedimentos, fluxos de lava e artefatos feitos pelo homem eras atrás. Pense nesses objetos como gravadores – eles contêm grãos magnéticos que “gravam” a assinatura do campo da Terra no momento em que se solidificaram. Analisa-los é como voltar no tempo magnético do nosso planeta.
Registros de sedimentos encontrados no centro da Itália nos informam que a última inversão de polaridade – ou seja, o norte e o sul magnéticos trocaram de lugares – aconteceu há quase 800.000 anos. Isso sugere que as mudanças de campo podem se tornar rápidas e atingir um grau por ano.
Uma nova pesquisa usou modelos de computador baseados na física do processo de geração de campo magnético, combinando-a com uma reconstrução das variações globais no campo ocorrida nos últimos 100.000 anos. A base para essa reconstrução é uma compilação de medições realizada em sedimentos, lavas e artefatos. Isso mostrou que as mudanças na direção do campo magnético da Terra atingiram taxas de até dez graus por ano – dez vezes maiores que as variações mais rápidas atualmente relatadas.
O que isso significa em impactos no mundo atual?
Em primeiro lugar, podemos descartar a possibilidade de que isso seja uma ameaça à vida. Prova disso é o evento Laschamp, a primeira excursão geomagnética (deslocamento do polo da região polar para a região equatorial terrestre, sem que resulte em uma inversão de polos) que 41.400 (± 2,000) anos atrás, e sobrevivemos a isto! Como sabemos?
O posicionamento do campo magnético foi registrado na lava dos vulcões próximos ao distrito francês Clermont-Ferrand. O evento Laschamp foi a primeira excursão geomagnética conhecida e continua a ser a mais estudada.
No entanto, as rápidas alterações magnéticas da Terra podem ameaçar o estilo de vida atual da sociedade altamente dependente da tecnologia e de infraestrutura eletrônica. Eventos climáticos espaciais causados pela interação entre o campo magnético e a radiação solar podem interromper as comunicações por satélite, GPS e redes de energia.
O problema é que esses eventos climáticos espaciais tendem a acontecer mais em regiões onde o campo magnético está fraco, e ele pode enfraquecer quando muda rapidamente. Infelizmente, não podemos prever essa aceleração e as quedas na força do campo apenas monitorando a direção do campo. Será preciso trabalhos usando simulações computacionais avançadas para superar esse problema.
Mudanças rápidas no campo magnético podem acontecer rapidamente e causar um grande impacto – embora esses sejam os eventos mais raros. Cientistas consideram estes um tipo de “evento cisne negro”. Ou seja, imprevisíveis, que acontecem rapidamente e mudam o cenário de forma drástica, de modo que apresentam grandes desafios aos gestores.
Um jeito possível para prever as grandes mudanças aceleradas no campo magnético é usar modelos baseados na física de como o campo se comporta. Mas ainda há muito para aprender, como o “limite de velocidade” do campo magnético da Terra.
Mudanças rápidas ainda não foram observadas diretamente durante uma inversão de polaridade, nem mesmo durante uma excursão. Mas devemos esperar por elas, pois vão acontecer. E quando o dia chegar, é preciso não apenas saber lidar com a situação, como registrar tudo em detalhes para a posteridade.
Se o campo de fato se tornar globalmente fraco durante uma mudança mais drástica, será preocupante. Só o custo econômico de um colapso da rede elétrica dos EUA devido a um evento climático-espacial foi estimado em cerca de um trilhão de dólares.
Em escala global, seria inimaginável. A ameaça é grave o suficiente para que o clima espacial seja um assunto de alta prioridade para as agências que estudam o espaço e o nosso planeta – e, cá entre nós, não deveria haver economia nos esforços e nos investimentos para pesquisas nessa área.
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