A corrida mundial pela descoberta de uma vacina eficaz contra a Covid-19 ganha destaque na imprensa francesa, após um anúncio promissor.
A empresa de biotecnologia Moderna, em colaboração com os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH), gerou uma “robusta” resposta imunológica ao frear a replicação da Covid-19 nos pulmões e narizes de macacos, segundo resultados divulgados nesta terça-feira (28). Este avanço nas pesquisas é manchete de capa no jornal francês Le Figaro nesta quarta-feira (29).
Esta é uma das duas vacinas ocidentais, junto com a elaborada pela Universidade de Oxford em parceria com o laboratório australiano AstraZeneca, que começou a ser testada em grande escala. Os Estados Unidos investiram quase US$ 1 bilhão para apoiar as pesquisas.
Sete de oito macacos vacinados nesse estudo e expostos quatro semanas depois ao novo coronavírus não registraram uma replicação detectável do organismo em seus pulmões dois dias depois. Nenhum dos oito animais tinha a presença do vírus no nariz, de acordo com os resultados publicados na revista médica New England Journal of Medicine.
Os cientistas constataram que a administração da vacina, em duas doses com 28 dias de diferença, gerou anticorpos específicos contra o coronavírus e também produziu linfócitos T (ou células T), indispensáveis para modular resposta do sistema imunológico diante de uma nova infecção.
Reduzir a quantidade de vírus nos pulmões tornaria a doença menos agressiva, enquanto a diminuição do número de vírus no nariz de uma pessoa infectada limitaria seu potencial de contaminação. Apesar dos resultados promissores, somente os testes em humanos, que estão em andamento, permitirão comprovar de fato a eficácia da vacina.
“Vírus dá as ordens no Brasil”
A vacina de Oxford/AstraZeneca, que está sendo testada no Brasil, poderá ter resultados definitivos a partir de setembro. Para a Moderna, a previsão é outubro.
Segundo reportagem do jornal especializado em economia Les Echos, num país como o Brasil, onde a epidemia está fora de controle, a vacina é a única esperança para reduzir o número de mortes, que há três meses ultrapassa diariamente mil pessoas. “Diante da gestão descentralizada e confusa da epidemia, o vírus Sars-CoV-2 continua dando as ordens no Brasil”, destaca Les Echos.
O jornal francês relata que, enquanto o presidente Jair Bolsonaro pede aos militares que trabalhem mais para produzir cloroquina, vários hospitais relataram uma ruptura de estoques de anestésicos e analgésicos para tratar os doentes. Mais grave ainda, o ministro interino da Saúde, general Pazuello, considerou que os testes de diagnóstico da Covid-19 “não eram essenciais“.
O jornal Le Parisien lembra que as pesquisas da Moderna, mais a chinesa Sinovac e a britânica Oxford/AstraZeneca – ambas testadas no Brasil – são as mais avançadas.
De acordo com a infectologista Odile Launay, do hospital Cochin, em Paris, em outubro os cientistas saberão se as vacinas funcionam ou não e qual é o nível de proteção que elas oferecem – 20%, 50% ou mais.
“Dependendo dos dados, as autoridades de saúde poderão propor um procedimento acelerado de acesso ao mercado, instituído devido à natureza excepcional desta crise, que requer respostas rápidas”, afirma a especialista.
// RFI