Em meio a alta de casos e difusão da variante delta do coronavírus, detectada inicialmente na Índia, governo português restringe circulação para dentro e para fora da região metropolitana da capital no fim de semana.
Em meio a preocupações com o elevado número de casos de covid-19 e a disseminação da variante delta do coronavírus, detectada pela primeira vez na Índia, o governo de Portugal decidiu impor restrições de circulação à Área Metropolitana de Lisboa (AML) neste fim de semana.
Os 2,8 milhões de moradores da AML – que engloba 17 municípios além da capital – estão proibidos de deixar a área entre as 15h (hora local) desta sexta-feira (18/06) e as 6h de segunda-feira.
Também ficará vetada a entrada de pessoas de fora da região metropolitana nesse período. A circulação para dentro e fora da AML será permitida apenas em circunstâncias extraordinárias.
“É muito mais uma medida de proteção do resto do país, para não estender o fenômeno em Lisboa para outras regiões, do que uma medida de contenção da pandemia na AML”, afirmou a ministra do Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva, ao anunciar, nesta quinta, a restrição à circulação.
Lisboa registrou 928 novos casos de covid-19 nesta quarta-feira, o mais alto número diário contabilizado desde fevereiro. A alta correspondeu a quase 70% de todas as infeções registradas no país no período – apesar de apenas 27% dos 10,3 milhões de habitantes de Portugal viverem na Área Metropolitana de Lisboa.
A variante delta, mais contagiosa, vem se espalhando rapidamente na capital e arredores e é uma das principais razões para a situação epidemiológica na área.
“Aparentemente, [existe] uma prevalência maior da variante Delta neste território e também na região do Alentejo”, afirmou Vieira da Silva, citada pelo jornal português Público.
“É difícil a explicação e a tomada destas medidas [de restrição à circulação], mas é uma condição que nos pareceu fundamental neste momento para não fazer alastrar a todo o país a situação que se vive em Lisboa.”
Testes de laboratório sugerem que a variante delta se multiplique mais no organismo, e estima-se que o risco de infectar membros da própria família seja 60% maior, de acordo com uma análise divulgada pela autoridade sanitária britânica Public Health England (PHE). Alé disso, segundo um estudo feito por pesquisadores escoceses e publicado na revista Lancet, uma infecção pela variante duplica o risco de hospitalização.
Devido à disseminação da variante delta, o primeiro-ministro, Boris Johnson, adiou por quatro semanas o levantamento de todas as medidas de prevenção na Inglaterra, inicialmente planejado para 21 de junho. Apesar da difusão da cepa no Reino Unido, Portugal decidiu liberar a entrada de turistas britânicos, exigindo apenas a apresentação de um teste negativo para a covid-19 antes da viagem.
Cenário revertido em poucas semanas
Portugal foi duramente atingido pelo coronavírus, mas conseguiu fazer com que as infecções baixassem para um dos níveis mais baixos do continente durante a primavera europeia. Em maio, as autoridades portuguesas encerram o estado de emergência imposto para conter a pandemia, após cinco meses e meio de vigência.
No entanto, dentro de poucas semanas, a taxa de incidência de casos por 100 mil pessoas em 14 dias no país aumentou de 55 para 87, de acordo com Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças.
Na Área Metropolitana de Lisboa, chegou a 254 na quinta-feira, enquanto a taxa nacional ficou em 90. Com isso, Lisboa está acima da linha vermelha, de 240 novos casos por 100 mil habitantes em 14 dias, determinada pelo governo.
Na semana passada, Lisboa não seguiu adiante com as planejadas medidas de desconfinamento no país devido à alta incidência da doença. As infecções vêm aumentando em todo o país, mas a maior parte dos casos contabilizados nas últimas duas semanas foi na região de Lisboa e Vale do Tejo.
Segundo a ministra Vieira da Silva, o país como um todo deverá ser obrigado a cancelar a próxima etapa de desconfinamento, prevista para a semana que vem. O número efetivo de reprodução do coronavírus R está em 1,13, o que significa que cada infectado transmite a doença a pelo menos mais uma pessoa.
Ao Diário de Notícias, Carlos Antunes, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, afirmou que, na prática, o país já vive uma quarta onda da pandemia.
Hospitais públicos ainda não estão sob pressão, mas alguns já estão se preparando para admitir mais pacientes com covid-19.
Lisboa anunciou nesta quinta que vai abrir centros de vacinação sete dias por semana a partir de 1º de julho numa tentativa de acelerar a campanha de imunização. Também nesta quinta, as autoridades de saúde disseram que vão reduzir o período entre as duas doses da vacina da AstraZeneca de 12 para oito semanas, em meio à disseminação de “variantes preocupantes”.
Até agora, Portugal vacinou 42% de sua população com a primeira dose e 25% com duas doses.