O método de datação através de radiocarbono implica a existência de restos orgânicos, que muitas vezes não estão disponíveis em locais que datam de mais de cinco mil anos.
Em um artigo publicado na última edição da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), os pesquisadores do Instituto de Oceanografia Scripps e do Departamento de Antropologia da Universidade da Califórnia, em San Diego, nos EUA, propõem usar as mudanças do campo magnético da Terra como método de datação.
Para o conseguirem, os cientistas estudaram artefatos do período Neolítico (entre 8.200 a 5.500 anos atrás) informa o UC San Diego News Center.
“O campo magnético da Terra mudou significativamente no passado […] Conjuntos de dados precisos sobre seu comportamento no passado também fornecem uma ferramenta de datação, mas até agora tínhamos poucas evidências de mudanças no campo magnético durante o período Neolítico e períodos anteriores na região do Levante”, disse a geofísica da Scripps Lisa Tauxe, citada na matéria.
Em seu estudo, os pesquisadores apresentaram novos dados de alta qualidade sobre a força do antigo campo magnético da Terra (arqueointensidade) para 129 espécimes de quatro locais arqueológicos na Jordânia, abrangendo o período de 7.752 a.C. a 5.069 a.C. – o registro mais antigo do Levante, da Turquia moderna e da antiga Mesopotâmia.
“O Neolítico, estudado nesta pesquisa, foi um período de grandes mudanças na história humana, especialmente na transição de sociedades nómadas para sociedades agrícolas e sedentárias”, explicou Thomas E. Levy, diretor do Centro de Ciberarqueologia e Sustentabilidade (CCAS, na sigla em inglês) do Instituto Qualcomm, e codiretor do Centro Scripps de Arqueologia Marinha (SCMA, na sigla em inglês), citado pelo portal.
Lisa Tauxe observou que os resultados de sua pesquisa “sugerem que um dos campos magnéticos mais fracos dos últimos dez mil anos no Levante ocorreu por volta de 7.600 a.C., quando era cerca de metade do campo magnético de hoje […] Esse campo recuperou sua força a um ritmo relativamente rápido durante os 600 anos seguintes, e depois enfraqueceu gradualmente até 5.200 a.C.”. A cientista indicou que tais leituras regionais são consistentes com os modelos geomagnéticos globais.
Os pesquisadores também investigaram descobertas feitas em Wadi Fidan do período de cerâmica neolítica – entre 8.300 a 6.500 anos atrás – quando as primeiras sociedades humanas começaram a experimentar a produção de cerâmica, que se tornou algo importante para armazenar bens alimentares.
“Os novos dados da arqueointensidade destes artefatos estão nos ajudando a preencher lacunas e a definir a resolução da curva arqueomagnética, melhorando nossa compreensão das mudanças passadas no campo magnético da Terra na região do Levante”, observou Tauxe, citada pelo UC San Diego News Center.
A equipe também investigou um material promissor para a medição de arqueointensidade: o sílex. Enquanto a cerâmica e vários outros materiais à base de argila são amplamente investigados em estudos arqueomagnéticos, o uso do sílex é muito menos comum, embora fosse a matéria-prima principal na fabricação de ferramentas no Paleolítico, Neolítico e até mesmo na Idade do Bronze. Nesses períodos, rochas siliciosas de grão fino eram queimadas para lascar a pedra com mais facilidade: o aquecimento ajudava a propagar fraturas no material, tornando mais fácil a produção de ferramentas de pedra.
Existem, no entanto, poucos dados arqueomagnéticos originários do período em que apareceram os assentamentos, a mesma época em que os animais foram domesticados e a dieta mediterrânea surgiu.
Ainda assim, com base nos resultados de sua pesquisa, os cientistas estão convencidos de que o arqueomagnetismo pode agora se mostrar valioso como ferramenta para a datação quando o radiocarbono não está disponível ou não é suficiente.
// Sputnik