Cientistas descobrem porque algumas pessoas não acreditam no que os cientistas descobrem

Si2 / Deviant Art

A Sociedade da Terra Plana, por Si2

A Sociedade da Terra Plana, por Si2

Se está na internet, é verdade! De acordo com um novo estudo, uma das maiores mudanças culturais dos últimos tempos foi o surgimento de notícias falsas, na qual afirmações sem evidências por trás delas são compartilhadas como fatos ao lado de reais evidências.

As vacinas matam crianças, as alterações climáticas não existem, o Homem nunca pôs o pé na Lua, e a Teoria da Evolução das Espécies é uma invenção: o Homem nunca pode ter vindo do macaco, porque o olho é demasiado complexo. Está tudo na Internet.

Os pesquisadores cunharam esta tendência de “movimento anti-iluminista”.

Uma equipe de psicólogos identificou alguns dos fatores-chave que podem levar as pessoas a rejeitar a ciência – e não tem nada a ver com grau de instrução ou de inteligência delas.

Os cientistas descobriram que as pessoas que rejeitam o consenso científico geralmente estão tão interessadas na ciência e são tão bem educadas quanto o resto de nós.

A questão é que, quando se trata de fatos, as pessoas pensam mais como advogados do que como cientistas, o que significa que elas “escolhem” os fatos e os estudos que respaldam o que elas já acreditam ser verdade.

Portanto, se alguém não pensa que os seres humanos estão causando mudanças climáticas, ignorará as centenas de estudos que apoiam essa conclusão, e se prenderá ao único estudo que puder encontrar que coloca em dúvida essa visão.

Isso também é conhecido como viés cognitivo.

As pessoas fogem dos fatos para proteger todos os tipos de crenças, incluindo a religiosa, a política e até mesmo simples crenças pessoais, como qual é o navegador web mais rápido ou o sistema operativo de celular mais seguro.

“As pessoas tratam os fatos como mais relevantes quando eles tendem a apoiar suas opiniões. Quando os fatos são contra suas opiniões, eles não os negam necessariamente, mas dizem que são menos relevantes”, explica Troy Campbell, da Universidade de Oregon, nos EUA, e um dos autores do estudo.

Evidências não bastam

Os resultados do estudo de Campbell e seus colegas sugerem que simplesmente se concentrar nas evidências e dados não é suficiente para mudar a mente de alguém sobre um determinado tópico, uma vez que a pessoa provavelmente terá seus próprios “fatos” para disparar de volta.

“Onde há conflito sobre riscos sociais – das mudanças climáticas à segurança de energia nuclear aos impactos das leis de controle de armas -, ambos os lados invocam o manto da ciência”, disse outro membro da equipe, Dan Kahan, da Universidade de Yale, nos EUA.

Em vez disso, os pesquisadores recomendam examinar as “raízes” da falta de vontade das pessoas em aceitar o consenso científico e tentar encontrar um terreno comum para introduzir novas ideias.

“Ao invés de assumir as atitudes superficiais das pessoas diretamente, é melhor adaptar a mensagem para que ela se alinhe com a sua motivação”, disse Matthew Hornsey, professor de psicologia da Universidade de Queensland, na Austrália.

“Assim, com os céticos do clima, por exemplo, você descobre no que eles podem concordar e, em seguida, foca as mensagens climáticas para se alinhar com isso”.

De onde vem esta negação da ciência? Uma grande parte do problema, segundo os cientistas, é que as pessoas associam conclusões científicas com afiliações políticas ou sociais.

As pessoas sempre têm “escolhido” os fatos nos quais acreditam quando se trata de ciência – isso não é nada novo. Mas não foi um problema tão grande no passado porque as conclusões científicas eram geralmente concordadas por líderes políticos e culturais, e promovidas como sendo as melhores decisões para o bem geral.

Hoje em dia, porém, os fatos científicos estão sendo empunhados como armas em uma luta por supremacia cultural, e o resultado é o que os pesquisadores chamam de “ambiente poluído de comunicação científica”.

Segundo os psicólogos, as apostas são muito altas para continuar a ignorar o “movimento anti-iluminista”. “Os movimentos antivacinação custaram vidas”, disse Hornsey.

Segundo alguns cientistas, os movimentos anti-vacinação nos EUA são responsáveis por ter feito reaparecer doenças que estavam erradicadas nos Estados Unidos, tendo provocado uma regressão de décadas na medicina familiar no país.

“O ceticismo das mudanças climáticas retarda a resposta global à maior ameaça social, econômica e ecológica do nosso tempo. Crescemos em uma era em que se supunha que a razão e a evidência eram a maneira de entender questões importantes, não medo, interesses, tradição ou fé”, acrescenta Hornsey.

“Mas o surgimento do ceticismo climático e o movimento antivacinação nos fizeram perceber que esses valores de iluminismo estão sob ataque”, alerta o cientista.

Hornsey, Campbell e colegas apresentaram o estudo no simpósio “Rejection of Science: Fresh Perspectives on the Anti-Enlightenment Movement“, durante a convenção anual da SPSP – Sociedade para a Personalidade e Psicologia Social.

Naturalmente, o estudo explica o grande erro que os céticos estão cometendo por não acreditar nos cientistas, ou é mais uma propaganda dos conspiradores da ciência.

Tal como você já sabia.

Ciberia // HypeScience

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