Afinal, somos todos imigrantes extragalácticos

Z. Levay and R. van der Marel, STScI; T. Hallas; and A. Mellinger / NASA, ESA

Astrofísicos da Universidade Northwestern (EUA) descobriram que, ao contrário do que pensávamos, até metade da matéria na Via Láctea pode ter vindo de outras galáxias distantes. Como resultado, cada um de nós pode ser feito em parte de matéria extragaláctica.

Usando simulações de supercomputadores, a equipe de pesquisa descobriu que um modo importante e inesperado de como as galáxias adquirem matéria é através de transferência intergaláctica.

Segundo mostraram as simulações realizadas pelos autores do estudo, publicado nesta quarta-feira (27) na Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, as explosões de supernovas expulsam quantidades abundantes de gás das galáxias, e esses átomos podem ser transportados de uma para outra através de poderosos ventos galácticos.

A transferência intergaláctica é um fenômeno recentemente identificado, fundamental para entender como as galáxias evoluem. “Dado quanta matéria pode ter vindo de outras galáxias, poderíamos nos considerar viajantes espaciais ou imigrantes extragalácticos”, disse Daniel Anglés-Alcázar, um dos autores do estudo.

As galáxias ficam muito distantes umas das outras, então, embora os ventos galácticos se propaguem a várias centenas de quilômetros por segundo, o processo de transferência ocorre ao longo de vários bilhões de anos.

Os pesquisadores realizaram simulações numéricas sofisticadas, que produziram modelos 3D realistas de galáxias, para seguir as suas formações logo após o Big Bang até o presente.

Algoritmos de última geração analisaram essa riqueza de dados e quantificaram como as galáxias adquiriam matéria a partir do universo. O estudo, que exigiu o equivalente a vários milhões de horas de computação contínua, transformou a nossa compreensão de como as galáxias se formam.

“O que esse novo modo implica é que até metade dos átomos que nos rodeiam – inclusive no sistema solar, na Terra e em cada um de nós – não vem da nossa própria galáxia, mas de outras galáxias, até um milhão de anos-luz de distância”, disse Claude- André Faucher-Giguère, outro autor do estudo.

No futuro

Ao rastrear em detalhes os complexos fluxos de matéria nas simulações, a equipe de pesquisa descobriu que o gás flui de galáxias menores a maiores, como a Via Láctea, onde forma estrelas. Esta transferência através de ventos galácticos pode representar até 50% da matéria nas galáxias maiores.

“Em nossas simulações, conseguimos traçar as origens das estrelas em galáxias tipo a Via Láctea e determinar se elas são formadas de matéria endêmica à própria galáxia ou de gás previamente contido em outra galáxia”, disse Anglés-Alcázar.

“Nossas origens são muito menos locais do que pensávamos anteriormente. Este estudo nos dá uma sensação de como as coisas ao nosso redor estão conectadas a objetos distantes no céu”, completou Faucher-Giguère.

As descobertas abrem uma nova linha de pesquisa na compreensão da formação de galáxias. A equipe planeja agora colaborar com astrônomos observacionais para testar as previsões de sua simulação.

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