A Alemanha vai receber cerca de 1.550 migrantes que estão espalhados em várias ilhas gregas. A chanceler Angela Merkel costurou um acordo com seu ministro do Interior, Horst Seehofer, que era reticente à proposta, uma semana após o incêndio que destruiu o acampamento de refugiados de Moria, na ilha de Lesbos, deixando mais de 12 mil desabrigados. O vice-chanceler Olaf Scholz confirmou a decisão.
Ao todo, cerca de 30 mil migrantes vivem atualmente em ilhas da Grécia. A Alemanha decidiu acolher 1.553 refugiados que já tiveram seus pedidos de asilo examinados e aceitos pelas autoridades gregas, sem necessariamente virem do acampamento incendiado em Lesbos. A maioria são famílias, segundo o vice-chanceler Scholz.
Autoridades locais e regionais na Alemanha tinham demonstrado disposição para acolher migrantes que perderam tudo no incêndio, mas para isso necessitavam de permissão do governo federal. Porém, membros da ala mais conservadora do governo alemão, como o ministro do Interior, Horst Seehofer, relutavam em aceitar novos refugiados no país.
Berlim já havia anunciado que pretendia receber entre 100 e 150 menores isolados do acampamento de Moria, em uma iniciativa conjunta com a França. Após o incêndio ocorrido na madrugada de 8 para 9 setembro, a pressão aumentou sobre o governo de Merkel para receber também adultos que ficaram sem refúgio na ilha do Mar Egeu.
Ao mesmo tempo, as autoridades alemãs insistem na necessidade de uma solução europeia para a questão, que divide os 27 membros da União Europeia (UE) há cinco anos.
Desde o auge da crise migratória, em 2015, a Alemanha recebeu mais 1,2 milhão de refugiados, mas enfrentou nos anos seguintes incidentes de violência protagonizados por estrangeiros acolhidos no país. Esses casos, que incluíram ataques terroristas, deram novo fôlego à extrema direita e grupos neonazistas xenófobos.
O partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) fez uma entrada triunfal no Parlamento alemão, tornando-se uma força política de peso, o que acabou reduzindo a margem de manobra da chanceler Angela Merkel em política de imigração.
Grécia construirá novo campo em Lesbos com apoio europeu
O primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, insistiu nesta terça-feira (15) que a União Europeia deve demonstrar solidariedade com a Grécia por meio de ações concretas, depois de participar de uma reunião com o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel. O acampamento de Moria “é coisa do passado”, frisou o grego.
Ele confirmou que um novo campo será construído em Lesbos, desta vez com maior apoio da União Europeia, mas ponderou que somente uma resposta conjunta do bloco e uma nova política de asilo poderão resolver o problema migratório.
Uma semana após o incêndio, milhares de migrantes, incluindo crianças, continuam dormindo nas ruas da ilha. Segundo Luciano Calestini, diretor do escritório grego do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), apenas mil vagas nas novas instalações temporárias foram ocupadas até o momento, em sua maioria por famílias. Existem milhares de outras disponíveis, além de novas que serão criadas.
Migrantes detidos
Os habitantes de Lesbos convocaram manifestações nesta terça-feira para para exigir a “saída dos migrantes”. O prefeito de Egeu do Norte, Kostas Mountzouris, um dos maiores opositores ao plano do governo de estabelecer um campo fechado para substituir Moria, pediu a empresários e trabalhadores que protestem para pedir “a retirada dos migrantes da ilha a bordo de barcos”.
No fim de semana, desesperados com a situação de precariedade em que se encontram, passando fome e dormindo ao relento, centenas de migrantes fizeram protestos e atiraram pedras em policiais.
A polícia de Lesbos anunciou a detenção de cinco suspeitos pelo incêndio de Moria. “Cinco jovens estrangeiros foram detidos e um sexto foi identificado e é procurado”, afirmou o ministro grego da Proteção Civil, Michalis Chrysohoidis.
Agentes gregos tentavam desde a manhã atrair mais migrantes para as instalações temporárias. Os desabrigados recebem um documento em cinco idiomas – inglês, francês, farsi, urdu e árabe – que tenta convencê-los a aderir ao dispositivo.
“A entrada dos solicitantes de asilo no novo campo não é negociável”, afirmou o ministro grego da Proteção Cidadã, Michalis Chryssohoidis. O texto distribuído afirma que a estadia nessa nova área é obrigatória, para garantir condições de vida decentes, por razões de saúde pública e pessoal, e para reiniciar o procedimento de asilo.
Os incidentes entre solicitantes de asilo e residentes, incluindo partidários da extrema direita, são frequentes desde o ano passado. Muitos moradores não aceitam a permanência dos migrantes. Na estrada próxima ao mar em Mitilene, a capital da ilha, postos de gasolina, supermercados e outras lojas permanecem fechados.
Vany Bikembo, um mecânico de 25 anos da República Democrática do Congo, afirma que o novo acampamento temporário “é um segundo inferno”. As barracas foram instaladas pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), em coordenação com o ministério grego da Migração.
// RFI