Depois de incêndio, refugiados de Lesbos passam fome e dormem no asfalto por falta de ação da União Europeia

A maioria dos 12.700 migrantes desalojados pelo incêndio que devastou na quarta-feira (9) o acampamento de Moria, na ilha grega de Lesbos, se prepara para passar uma terceira noite ao relento na Grécia.

Sem ter para onde ir, e diante da demora angustiante das autoridades locais e europeias em encontrar uma solução de acolhimento decente, os refugiados aguardam uma definição estendidos no asfalto, ao longo de uma estrada entre o acampamento e Mitilene, a capital da ilha.

O desespero é visível nos olhos dos refugiados. “Moria acabou, não dá mais. O incêndio queimou tudo, minhas roupas, meus documentos, tudo queimou. E agora estamos aqui”, disse Carl, um congolês de 29 anos.

O “aqui” é um trecho de estrada. Nas proximidades, a única construção é um supermercado, perto da entrada de Mitilene. Mas com a afluência dos migrantes, o supermercado fechou as portas. O congolês e seu compatriota Olivier não têm o que comer.

Carl entrou na fila para a primeira distribuição de alimentos organizada pelo Exército grego, na entrada do supermercado fechado. Os refugiados recebem água mineral, ovos, pão e algumas frutas, produtos que eram originalmente destinados ao acampamento de Moria, transformado em terra arrasada.

Os migrantes reclamam da ausência de câmeras para mostrar ao mundo as condições desumanas que enfrentam na ilha de Lesbos. “Não é normal nos deixarem assim, é desumano, com só isso de comida para 12.700 pessoas. A distribuição não é bem organizada, não fazem as coisas direito”, declarou um deles à reportagem da RFI.

A poucos quilômetros desse ponto de contato improvisado pelo Exército, na mesma estrada, outros grupos de refugiados esperam sem saber para onde ir ou o que fazer, sem um grão de comida.

O governo grego planejou o fornecimento de milhares de barracas para abrigar temporariamente os migrantes e também enviou uma embarcação ao porto de Mitilene, que poderia acolher uma parte deles. Mas os planos de Atenas encontram forte resistência de autoridades da ilha de Lesbos e da população local, que temem que os abrigos temporários se tornem um novo acampamento permanente.

Esses milhares de refugiados, que já viviam em condições miseráveis e insalubres antes do incêndio, agora dormem na beira da estrada. Muitos perderam o pouco de dinheiro que guardavam nas barracas e os aparelhos de telefone celular, essenciais para o contato com associações humanitárias e suas famílias.

No dia seguinte ao incêndio, a camaronesa Ada, por exemplo, tinha uma entrevista marcada para a tramitação de seu pedido de asilo. Agora, ela não tem a menor ideia do que será seu futuro.

O primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, aproveita o encontro de cúpula Med7, que ocorre atualmente na ilha francesa da Córsega, para renovar o apelo de Atenas a mais solidariedade europeia nesta questão da pressão migratória e dos requerentes de asilo.

O líder conservador afirma que a Grécia está exposta a “um peso insuportável” que é, antes de tudo, um “problema europeu”. “Hoje”, disse ele, “a Europa deve passar das palavras de apoio aos atos de solidariedade, para ter sucesso onde infelizmente fracassamos no passado”.

Sem grandes ilusões, os milhares de desabrigados do acampamento de Moria também esperam que os europeus adotem políticas migratórias mais humanas.

Dez países europeus vão receber menores

Nesta sexta-feira (11), a União Europeia anunciou que dez países do bloco vão receber 400 migrantes menores de idade desacompanhados que estavam no acampamento de Moria. O ministro alemão do Interior, Horst Seehofer, disse que a Alemanha e a França receberão cada um entre 100 e 150 crianças e adolescentes. A Holanda também se ofereceu para receber uma centena de requerentes de asilo, a metade menores de idade.

“Estamos falando com outros países da UE que podem receber menores”, declarou Seehofer em uma entrevista coletiva ao lado do comissário europeu das Migrações, o grego Margaritis Schinas. “Moria recorda com gravidade a todos os membros (da UE) por que precisamos mudar a Europa”, afirmou Schinas. “Precisamos de solidariedade na política migratória da UE”, completou. O ministro afirmou ainda que a prioridade é encontrar uma solução para famílias.

Entre os outros países que vão receber um pequeno número de crianças estão Finlândia, Bélgica, Luxemburgo, Eslovênia, Croácia, Portugal mas também fora da UE, a Suíça, segundo o ministro do Interior da Alemanha. Seehofer explicou que os menores devem chegar à Alemanha até o final de setembro.

A Comissão Europeia pretende apresentar até o fim do mês uma proposta para um novo pacto sobre migração e asilo.

// RFI

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