Um novo estudo sugere que as análises genômicas realizadas na múmia chilena que se pensava ser extraterrestre foram desnecessárias e antiéticas.
Encontrada em 2003, no deserto do Atacama, a estranha forma do esqueleto, de apenas 15 centímetros e com uma cabeça alongada, alimentou rumores de que seria extraterrestre.
Desde então, testes de DNA confirmaram que os restos mortais pertenciam a um feto humano que os pesquisadores batizaram de Ata. Porém, os cientistas que conduziram a análise e publicaram as descobertas em março têm sido criticados pelos métodos usados na pesquisa.
Na quarta-feira (18), outro grupo de cientistas apresentou uma nova avaliação do estudo anterior, publicado no International Journal of Paleopathology, criticando seus autores e sugerindo que as conclusões sobre as chamadas anormalidades do esqueleto – como a falta de costelas – refletem uma compreensão incompleta do desenvolvimento fetal normal, escreve o Live Science.
Essa má interpretação dos restos mortais levou os cientistas a prosseguir com a extração de DNA, que danificou parte do esqueleto.
A análise, que não incluiu qualquer pesquisador chileno, pode ter ultrapassado os protocolos que normalmente controlam a ética da pesquisa realizada com esqueletos humanos, já que sua publicação omitiu “uma declaração de ética suficiente ou licença arqueológica”, escreveu Kristina Killgrove, coautora do novo estudo e professora assistente de antropologia na Universidade do Oeste da Flórida, em artigo para a Forbes.
No novo estudo, os autores notaram que o crânio e o corpo de aspecto incomum da múmia não eram necessariamente o resultado de “anomalias”, assim como sugerido pela pesquisa anterior. Em vez disso, o crânio poderia ter sido alongado pelo parto vaginal do feto prematuro, enquanto que o calor e a pressão no subsolo depois de o corpo ter sido enterrado poderiam ter comprimido ainda mais o crânio.
Os cientistas dessa nova análise também questionam a sugestão do estudo anterior de que “novas mutações” poderiam explicar o tamanho da múmia. Os autores observaram que o desenvolvimento esquelético na idade suspeita do feto, 15 semanas, não teria sido afetado pelas variantes genéticas que os outros pesquisadores descreveram no estudo.
De acordo com os cientistas da nova pesquisa, como se acredita que os restos mortais tenham apenas algumas décadas, estudá-los levantam preocupações éticas que o estudo anterior não tratou de forma adequada.
Além disso, como a extração de DNA pode destruir alguns tecidos do corpo, deveriam ter sido aplicadas restrições adicionais nesse exame. E ainda não está claro no estudo anterior que a amostra de DNA tenha sido necessária para começar.
“Infelizmente, não havia justificativa científica para realizar análises genômicas de Ata porque o esqueleto é normal”, escreveram os autores do novo estudo, acrescentando que o teste do genoma completo realizado anteriormente “foi desnecessário e antiético”.
“Alertamos os cientistas de DNA sobre como se envolver em casos que têm falta de contexto e legalidade claros, ou onde os restos residem em coleções particulares”, concluíram.
Ciberia // ZAP