De todos os continentes do planeta, sabe-se pouco sobre a massa gelada da Antártida. Agora, cientistas usaram imagens de satélite para estudar a tectônica da Terra, revelando as estruturas ocultas do continente.
Devido à localização remota e abundância de gelo, mapear as características geológicas da Antártida é complicado, mas o satélite “Gravity Field and Steady State Ocean Circulation Explorer” (GOCE) conseguiu ver o que outros satélites não conseguiram – medindo com precisão a força da gravidade da Terra para mapear o terreno oculto.
De acordo com a pesquisa, publicada no dia 5 de novembro nos Scientific Reports, o GOCE ficou inativo depois de ficar sem combustível em 2013, mas os especialistas ainda estudam os dados recolhidos. Os pesquisadores dizem que os resultados fornecem uma nova visão sobre como a Antártida foi formada e sobre a forma como as placas tectônicas funcionam.
“Na região leste da Antártida, vemos um mosaico empolgante de características geológicas que revelam semelhanças e diferenças fundamentais entre a crosta debaixo da Antártida e outros continentes até 160 milhões de anos atrás”, explicou Fausto Ferraccioli, da British Antarctic Survey.
A Antártida já fez parte do supercontinente Gondwana, que começou a se desintegrar há cerca de 130 milhões de anos. O vínculo entre a Antártida e a Austrália só desapareceu há 55 milhões de anos.
Ao combinar as leituras do satélite com dados sismológicos, os pesquisadores conseguiram criar mapas em 3D da litosfera da Terra, que inclui cadeias montanhosas, costas oceânicas e zonas rochosas – os restos de antigos continentes perdidos.
“Os dados da gravidade dos satélites podem ser combinados com dados sismológicos para produzir imagens mais consistentes da crosta e manto superior em 3D, o que é crucial para entender como a dinâmica das placas tectônicas e do manto profundo interagem”, disse Jörg Ebbing, da Universidade de Kiel, na Alemanha.
O satélite GOCE circulou pelo nosso planeta durante mais de quatro anos, desde março de 2009 a novembro de 2013. Durante esse tempo, ficou excepcionalmente próximo da Terra, a uma altitude de 225 quilômetros, para maximizar a precisão das suas medições.
Entre as conclusões do estudo está ainda a descoberta de uma crosta e litosfera mais fina sob a Antártida ocidental em comparação com a parte oriental.
Esses dados têm uma utilidade para além do mapeamento dos restos dos antigos continentes. As conclusões podem usar usadas ainda para descobrir como as camadas de gelo localizadas acima do terreno podem reagir às temperaturas mais altas.
Com tantas variáveis, poderia ser um desafio para os pesquisadores prever como o degelo vai ser processado na Antártida e qualquer ajuda é bem-vinda – mesmo vinda de um satélite inativo como o GOCE.
“Essas imagens gravitacionais revolucionam nossa capacidade de estudar o continente menos compreendido na Terra: a Antártida”, concluiu Ferraccioli.
Ciberia // ZAP