No futuro, os astronautas vão ter que realizar procedimentos cirúrgicos no espaço. Perdas de sangue, urina e matéria fecal serão apenas algumas das possíveis complicações que aguardam os futuros astronautas.
Uma equipe de cientistas da Universidade de Pittsburgh e do King’s College Hospital, em Londres, vasculhou seis décadas de literatura científica para reunir a mais abrangente (e fascinante) lista de compilações cirúrgicas no espaço. O resultado final foi publicado no dia 19 de junho em uma revisão de literatura intitulada Cirurgia no Espaço.
“Os futuros astronautas vão encontrar inevitavelmente uma série de patologias comuns durante as viagens espaciais de longa distância”, escreveram os autores, acrescentando que as doenças “podem surgir da falta de peso prolongada, da exposição à radiação cósmica e do trauma”.
E, pelo menos por agora, os humanos não estão preparados para enfrentar essas complicações no espaço.
Cirurgias no espaço
Os astronautas podem se deparar com diversos perigos nas viagens espaciais. No entanto, não há muitas formas de conseguir controlá-los. Atualmente, a melhor forma de tratar uma emergência médica a bordo da Estação Espacial Internacional (EEI) implica o retorno dos astronautas à Terra o mais rápido possível, de acordo com os autores.
Se um astronauta está em Marte – planeta que leva, em condições favoráveis, cerca de 9 meses para se alcançar – voltar para casa não é uma opção. Ter um médico em Terra realizando cirurgias remotamente com a ajuda de robôs é igualmente inviável.
“A distância entre a Terra e Marte é de 78,2 milhões de quilômetros, o que significa um atraso de comunicação entre 4 e 22 minutos para sinais de rádio”, explicaram.
Se necessário realizar uma cirurgia no espaço, ela deve ser realizada pessoalmente por humanos altamente treinados – o que também causa problemas. Para começar, o espaço existente para armazenamento na nave espacial é escasso, mesmo sem ter que acomodar um pequeno hospital.
“Seria impossível carregar todo o equipamento necessário para tratar cada sintoma”, argumentaram os pesquisadores.
De acordo com estudos anteriores, uma forma de contornar o problema da falta de espaço, seria recorrer à impressão 3D. Em vez de os astronautas carregarem cada ferramenta médica conhecida, levariam um banco de dados digital com modelos imprimíveis em 3D para cada ferramenta médica conhecida pela humanidade.
Assim, médicos astronautas poderiam imprimir as ferramentas que necessitarem, só no momento que precisarem delas.
Um intestino flutuante
A própria cirurgia por si só seria um desafio. Para combater a microgravidade sentida a bordo, os pacientes teriam que estar fisicamente contidos, de acordo com o estudo. Uma vez que o paciente se encontre seguro, o vazamento de fluídos corporais através das feridas abertas representará outro desafio ainda mais complexo.
“Devido à tensão superficial do sangue, ele tende a se agrupar e formar cúpulas que podem se fragmentar quando os tecidos são cortados por instrumentos médicos”, disseram os autores, explicando que “os fragmentos podem flutuar para fora da superfície, dispersando-se por toda a cabine, criando um potencial risco biológico“.
E há ainda um cenário pior: sem a gravidade para manter os órgãos do paciente no lugar, eles podem até mesmo flutuar e se encostar às paredes abdominais dos astronautas durante a cirurgia.
De acordo com os cientistas, a falta de gravidade aumenta ainda o risco dos intestinos de pacientes serem acidentalmente “eviscerados” durante o procedimento – vazando bactérias gastrointestinais para o todo o corpo do doente, bem como para a nave.
Uma forma de evitar a contaminação através do sangue e de outros fluídos seria cobrir o paciente em um “recinto hermeticamente fechado” e separado de toda a nave espacial. A solução seria uma espécie de Trauma Pod, um pequeno módulo médico selado, que teria que ser construído de forma embutida em futuras naves espaciais.
Ainda há muito caminho a percorrer antes de qualquer um desses problemas estar controlado, mas as agências espaciais de todo mundo já se debruçam na resolução deles. A NASA, por exemplo, tem realizado experiências de telemedicina em um laboratório subaquático, projetado especialmente para simular um ambiente espacial.
Além disso, vários laboratórios têm investigado medicamentos baseados em células-tronco, que poderiam ajudar os astronautas a regenerar automaticamente seus ossos e tecidos em um ambiente de microgravidade.
Em breve, e com ajuda da inovação, o espaço – a última barreira da medicina – poderá ser finalmente conquistado.
Ciberia // ZAP